segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Lulismo e Eduardo Campos



Cláudio André de Souza*

O livro recente do cientista político André Singer (USP), “Os sentidos do Lulismo”, apresenta duas considerações fundamentais sobre a política brasileira: em primeiro lugar, o fenômeno lulista pode ser entendido diante do apoio eleitoral que Lula obteve junto as classes mais “pobres”, sendo a realização de um projeto político capaz de ajudar os mais pobres sem estabelecer confronto com a ordem socioeconômica vigente. Este é o legado do lulismo ao perseguir um equilíbrio entre mudanças sociais e conservação da política econômica, consolidando o país nas hostes do capitalismo competitivo.

Em segundo lugar, o êxito do lulismo enquanto projeto político assume centralidade na construção das estratégias partidárias. Em outras palavras, será incontornável aos atores políticos que almejam liderar a política no plano nacional se por de costas ao “social”, enquanto projeto e herança lulista junto aos eleitores. Vejamos que as interpretações sobre o lulismo na política brasileira adquirem grande importância para entendermos as movimentações em torno da ascensão do Governador Eduardo Campos (PSB) como possível líder de um novo projeto eleitoral, mas que mantém suas raízes no lulismo sem ruptura definitiva, sobretudo, na dimensão partidária.

A ascensão de Campos ocorre em uma conjuntura em que todas as forças políticas necessitam dialogar com os eleitores que estabeleceram com o lulismo uma relação de representação política no qual Campos é um dos protagonistas. Para termos ideia, os investimentos federais subiram 150% em Pernambuco entre 2006 e 2010. O PIB pernambucano aumentou 16% em 2010, o dobro da média nacional, em um cenário de industrialização acelerada. Lá o PIB per capita elevou-se em 86% entre 2002 e 2008. Desse modo, tais mudanças socioeconômicas estruturam em parte a escolha do voto por parte do eleitor, mas creditando os atores políticos locais e nacionais.

Uma possível candidatura de Campos tem como potencial dinamizar o espectro eleitoral que apoia o lulismo, mas também representar eleitores descontentes com uma oposição que não se transfigurou com o tempo, que ainda é em parte incapaz de traduzir os anseios produzidos pela maioria dos eleitores em torno da centralidade das conquistas que o lulismo construiu nos últimos dez anos. Se FHC nos deixou a estabilidade macroeconômica, Lula ofertou ao país a igualdade e um acesso mais justo aos direitos sociais.

Daí que a movimentação de Campos merece atenção, pois cria pontes de diálogo com a oposição no plano eleitoral das alianças, mas sabendo que o seu êxito não tem como horizonte imediato o rompimento com o lulismo. Talvez, concretamente, devamos ter cautela nas análises, mas sem dúvida, a sua candidatura pode causar mais reflexões na oposição do que no governo, pois demonstra que partidos importantes a democracia brasileira como é o PSDB e o DEM, acusam dificuldades em interpretar o momento atual, sobretudo, os traços marcantes do fenômeno lulista que está para além dos passos dados pelo seu principal líder. O traço marcante da conjuntura atual aponta a tendência de reestruturação das forças partidárias em torno de novos interesses em constante sintonia com esta agenda lulista. A criação de novos partidos é um dos indicadores deste momento, em especial, as forças políticas de oposição.


* Doutorando em Ciências Sociais (UFBA) e Professor de Ciência Política da Universidade Católica do Salvador (UCSAL)
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