segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O PT e a sociedade civil


(Publicado no Jornal A Tarde, 31/10)


* Cláudio André de Souza

Pesquisas recentes da ciência política visam entender as transformações enfrentadas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) relativa a representação política, em especial, o saldo da relação do partido com o conjunto de atores tradicionais da sociedade civil: movimentos sociais, sindicatos, ONGs, associações, entre outros. Ou seja, como entender se o partido ainda representa estes setores após mudanças consideráveis no bojo de governos de coalizão permeados por interesses díspares de reforma gradual e pacto conservador?

Embora as conclusões acadêmicas compreendam que o PT mantém forte vinculação de representação das organizações da sociedade civil, este cenário assume a forma de conflito entre velhos e novos interesses. Nesse aspecto, a eleição de Salvador foi emblemática por evidenciar a influência decisiva às avessas de segmentos tradicionais do campo de apoio político do PT, que seguiram partidos à direita e à esquerda do seu espectro ideológico.

A medida que a insatisfação com o governo estadual entrou na campanha, o candidato ACM Neto (DEM) radicalizou a estratégia de criar um plebiscito do PT nas urnas, ressaltando o governo estadual como modelo negativo de gestão. Captou assim o sentimento de “mudança” do eleitorado, responsabilizando o partido pelos problemas sociais vividos na capital. Os desgastes da gestão estadual e a ampla visibilidade do julgamento do mensalão tornaram as eleições um ambiente favorável ao antipetismo, com participação ativa de cidadãos difusos nas redes sociais virtuais.

É cedo concluir sobre os efeitos deste desencontro do PT com a sociedade civil, mas não há como fugir de um duplo movimento crítico, a de cunho institucional, relativa a avaliação dos seus governos e o compromisso com segmentos sociais tradicionais, e sobre a política da qual o PT até aqui jamais abriu mão: a de possuir influência entre os atores políticos da sociedade civil. Após as eleições, o maior desafio do partido na Bahia é reestabelecer as pontes com a sociedade civil, seu lugar de origem, reconhecendo erros e acertos.


(*) Mestre em Ciências Sociais (UFBA) e Professor de Ciência Política da Universidade Católica do Salvador (UCSAL). claudioandre.cp@gmail.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário