(Publicado no Jornal A Tarde, 31/10)
*
Cláudio André de Souza
Pesquisas
recentes da ciência política visam entender as transformações enfrentadas pelo
Partido dos Trabalhadores (PT) relativa a representação política, em especial,
o saldo da relação do partido com o conjunto de atores tradicionais da
sociedade civil: movimentos sociais, sindicatos, ONGs, associações, entre
outros. Ou seja, como entender se o partido ainda representa estes setores após
mudanças consideráveis no bojo de governos de coalizão permeados por interesses
díspares de reforma gradual e pacto conservador?
Embora
as conclusões acadêmicas compreendam que o PT mantém forte vinculação de
representação das organizações da sociedade civil, este cenário assume a forma
de conflito entre velhos e novos interesses. Nesse aspecto, a eleição de Salvador
foi emblemática por evidenciar a influência decisiva às avessas de segmentos
tradicionais do campo de apoio político do PT, que seguiram partidos à direita
e à esquerda do seu espectro ideológico.
A
medida que a insatisfação com o governo estadual entrou na campanha, o
candidato ACM Neto (DEM) radicalizou a estratégia de criar um plebiscito do PT
nas urnas, ressaltando o governo estadual como modelo negativo de gestão.
Captou assim o sentimento de “mudança” do eleitorado, responsabilizando o
partido pelos problemas sociais vividos na capital. Os desgastes da gestão
estadual e a ampla visibilidade do julgamento do mensalão tornaram as eleições
um ambiente favorável ao antipetismo,
com participação ativa de cidadãos difusos nas redes sociais virtuais.
É
cedo concluir sobre os efeitos deste desencontro do PT com a sociedade civil, mas
não há como fugir de um duplo movimento crítico, a de cunho institucional,
relativa a avaliação dos seus governos e o compromisso com segmentos sociais
tradicionais, e sobre a política da qual o PT até aqui jamais abriu mão: a de
possuir influência entre os atores políticos da sociedade civil. Após as
eleições, o maior desafio do partido na Bahia é reestabelecer as pontes com a
sociedade civil, seu lugar de origem, reconhecendo erros e acertos.
(*) Mestre em Ciências Sociais
(UFBA) e Professor de Ciência Política da Universidade Católica do Salvador
(UCSAL). claudioandre.cp@gmail.com
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