*Cláudio
André de Souza
O eleitorado de Salvador levou às
urnas neste primeiro turno uma clivagem política entre dois projetos
partidários distintos no plano local e nacional. Embora as questões locais
predominem nesse nível de competição, a relevância dos fatores externos
sobrepujou a disputa entre ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT).
O primeiro representa aos eleitores
o desejo de “mudança” a gestão atual da prefeitura, mas, sobretudo, diante de
uma ineficácia do governo estadual como responsável direto pela administração
da cidade. A campanha tornou-se bem sucedida a medida que conseguiu ressaltar o
governo estadual como “modelo” negativo de atuação do PT a frente do executivo.
A campanha simbolizou junto ao
eleitorado a mudança, ao mesmo tempo em que manteve perspectivas comuns ao repertório
político vastamente utilizado em outros tempos pelo carlismo (técnica, gestão,
eficácia, ordem, etc.). Mesmo percebendo-se que a candidatura de ACM Neto não figura
o retorno daquele tempo social e político, é necessário observar os liames
decisórios do voto, pois, com certeza, os eleitores não jogaram completamente
ao mar a representação política do que compreendem como “carlismo”.
A candidatura petista pretendeu se deslocar
ao encontro do projeto político governante em nível estadual e federal.
Contudo, o desafio da campanha foi reiterar a necessidade de duas dimensões de
alinhamento, a “administrativa” e a “política”, sendo que ambas foram
recepcionadas como chantagem ou até autoritarismo para os mais atentos aos
valores republicanos.
No entanto, o principal desafio dos
petistas foi vencer a percepção dos eleitores sobre o partido enquanto “continuidade”
do governo estadual, além de portador dos desgastes evidenciados pelo julgamento
do mensalão com larga escala de cobertura na imprensa e causando debates na
sociedade civil. Nessa direção, valerá a pena analisar futuramente em que
medida as urnas construirão um antipetismo,
isto é, uma oposição arregimentada tanto à direita como à esquerda do PT.
A tradução das urnas, ainda que
preliminar, deve considerar que as duas candidaturas possuem diferenças históricas,
sociais e políticas. Esta distinção fundamentada no voto não deixa escapar como
observação em curso neste segundo turno a estratégia da campanha de ACM Neto de
provocar um “plebiscito” do PT nas urnas, papel que este partido tanto suscitou
durante anos na política brasileira em relação aos adversários.
Decerto, os desdobramentos do
segundo turno se farão como uma “toupeira”, animal que mesmo invisível aos
olhos se mantém presente por debaixo da terra, ou seja, a relevância de dois
projetos partidários que extrapolam a dimensão local. De qualquer jeito, o
resultado do segundo turno dimensionará impactos na política estadual e
nacional, mas não será um determinante em si.
No que se refere a representação
política, definida pela cientista política Hannah Pitkin enquanto o ato de
“tornar presente algo que, no entanto, não está literalmente presente”, é de
suma importância nestas eleições o peso dos partidos políticos enquanto
estruturas legítimas da democracia. O acirramento entre PT e DEM reproduz de
ambas as partes a intenção que o eleitor
assuma um voto partidário. Assim está nas propagandas e nos debates televisivos
entre os candidatos.
O segundo turno até aqui revela o aumento
de justificativas programáticas e pragmáticas, transferindo o embate local para
a arena estadual e nacional. O apoio do PMDB ao DEM consagrou a escolha por construir
alianças para 2014, enquanto os apoios recebidos pelo PT se justificam pela
presente coalizão partidária dos governos estadual e federal.
Seja qual for o resultado deste
segundo turno, é inegável a representação política de partidos reconhecidos com
distinção pelos eleitores. Desse modo, é possível afirmar que a medida que se
qualificam como atores políticos legítimos em conjunto, inclusive, com a
sociedade civil, atuam em favor da democracia. A eleição de vereadores com
perfil de larga militância partidária coadunam com a eleição do futuro prefeito,
ambos com liderança destacada e reconhecida em seus respectivos partidos.
*Professor de Ciência Política da Universidade Católica
do Salvador (UCSAL), Doutorando em Ciências Sociais (PPGCS/UFBA). E-mail: clandresouza@gmail.com
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