sábado, 20 de outubro de 2012

Eleições e representação política em Salvador


*Cláudio André de Souza



O eleitorado de Salvador levou às urnas neste primeiro turno uma clivagem política entre dois projetos partidários distintos no plano local e nacional. Embora as questões locais predominem nesse nível de competição, a relevância dos fatores externos sobrepujou a disputa entre ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT).

O primeiro representa aos eleitores o desejo de “mudança” a gestão atual da prefeitura, mas, sobretudo, diante de uma ineficácia do governo estadual como responsável direto pela administração da cidade. A campanha tornou-se bem sucedida a medida que conseguiu ressaltar o governo estadual como “modelo” negativo de atuação do PT a frente do executivo.

A campanha simbolizou junto ao eleitorado a mudança, ao mesmo tempo em que manteve perspectivas comuns ao repertório político vastamente utilizado em outros tempos pelo carlismo (técnica, gestão, eficácia, ordem, etc.). Mesmo percebendo-se que a candidatura de ACM Neto não figura o retorno daquele tempo social e político, é necessário observar os liames decisórios do voto, pois, com certeza, os eleitores não jogaram completamente ao mar a representação política do que compreendem como “carlismo”.

A candidatura petista pretendeu se deslocar ao encontro do projeto político governante em nível estadual e federal. Contudo, o desafio da campanha foi reiterar a necessidade de duas dimensões de alinhamento, a “administrativa” e a “política”, sendo que ambas foram recepcionadas como chantagem ou até autoritarismo para os mais atentos aos valores republicanos.

No entanto, o principal desafio dos petistas foi vencer a percepção dos eleitores sobre o partido enquanto “continuidade” do governo estadual, além de portador dos desgastes evidenciados pelo julgamento do mensalão com larga escala de cobertura na imprensa e causando debates na sociedade civil. Nessa direção, valerá a pena analisar futuramente em que medida as urnas construirão um antipetismo, isto é, uma oposição arregimentada tanto à direita como à esquerda do PT.

A tradução das urnas, ainda que preliminar, deve considerar que as duas candidaturas possuem diferenças históricas, sociais e políticas. Esta distinção fundamentada no voto não deixa escapar como observação em curso neste segundo turno a estratégia da campanha de ACM Neto de provocar um “plebiscito” do PT nas urnas, papel que este partido tanto suscitou durante anos na política brasileira em relação aos adversários.

Decerto, os desdobramentos do segundo turno se farão como uma “toupeira”, animal que mesmo invisível aos olhos se mantém presente por debaixo da terra, ou seja, a relevância de dois projetos partidários que extrapolam a dimensão local. De qualquer jeito, o resultado do segundo turno dimensionará impactos na política estadual e nacional, mas não será um determinante em si.

No que se refere a representação política, definida pela cientista política Hannah Pitkin enquanto o ato de “tornar presente algo que, no entanto, não está literalmente presente”, é de suma importância nestas eleições o peso dos partidos políticos enquanto estruturas legítimas da democracia. O acirramento entre PT e DEM reproduz de ambas as partes a intenção que o  eleitor assuma um voto partidário. Assim está nas propagandas e nos debates televisivos entre os candidatos.

O segundo turno até aqui revela o aumento de justificativas programáticas e pragmáticas, transferindo o embate local para a arena estadual e nacional. O apoio do PMDB ao DEM consagrou a escolha por construir alianças para 2014, enquanto os apoios recebidos pelo PT se justificam pela presente coalizão partidária dos governos estadual e federal.

Seja qual for o resultado deste segundo turno, é inegável a representação política de partidos reconhecidos com distinção pelos eleitores. Desse modo, é possível afirmar que a medida que se qualificam como atores políticos legítimos em conjunto, inclusive, com a sociedade civil, atuam em favor da democracia. A eleição de vereadores com perfil de larga militância partidária coadunam com a eleição do futuro prefeito, ambos com liderança destacada e reconhecida em seus respectivos partidos.


*Professor de Ciência Política da Universidade Católica do Salvador (UCSAL), Doutorando em Ciências Sociais (PPGCS/UFBA). E-mail: clandresouza@gmail.com

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