Meu amigo e cientista político Henrique Oliveira me forneceu novas contribuições ao artigo publicado aqui e no Carta Maior. Segue abaixo suas valiosas análises sobre a atual conjuntura política na Bahia.
A tese antagônica a sua seria a de que o carlismo não mais existe e que muito menos ACM Neto não estaria reincorporando-o. São duas teses difíceis de contestar, mas, sem esse objetivo especificamente, poderíamos dizer que embora ACM Neto estivesse agora assumindo claramente uma postura de resgate à figura do avô e sua forma de ser como um gestor de “pulso forte” e capaz de coloca ordem no caos. Na essência esse não seria um discurso particular à Neto, portanto, não teria a ver exclusivamente com o carlismo, pois tanto Pelegrino quanto Mário possuem tal conduta. Obviamente que, talvez, com um maior grau de sutileza, mas no discurso de ambos está o gerencialismo. Essa aderência ao avô seria algo mais referente a uma reação da classe marketeira frente às pesquisas de avaliação de preferências do eleitor, e ao mesmo tempo essa é uma postura identificada com ACM, logo oportuno para ACM Neto incorporá-la, tanto é que na campanha passada isso não ocorreu.
Já ter ACM Neto como proposta de oposição nacional. Isso é bem complicado, até mesmo no nível estadual. Seria mais por incompetência política do governo Wagner do que um retorno da retomada pelo gosto do carlismo pela população baiana e uma rearticulação da elite sádica da Bahia. Se uma coisa que vale significativamente na política é a palavra, pelo menos entre os políticos, ACM Neto está mais sujo que pau de galinheiro entre políticos da antiga base do carlismo. Na eleição passada, em momento de desespero, partiu para o varejo invadindo currais tradicionais, dos quais, muitos, foram divididos por, justamente, seu avô. Lembre-se como ele fez casadinha com deus e o diabo, da mulher de João Henrique ao parceiro fiel, filho de José Aleleuia. Sem lembrar dos 100 mil votos a menos que teve em relação a eleição passada. Caberia perguntarmos o quanto essa alavancada de ACM Neto e a sua aproximação ao avô, como você bem coloca, não é uma particularidade da cidade de Salvador, pois como você já postou, passa por uma crise política. Ainda é interessante darmos destaque ao legislativo para explicitar essa crise política na cidade, poder tão bem estudado por ti.
Já a possibilidade da existência política do carlismo como grupo é algo ainda mais delicado. Esse grupo aparenta passar por uma fragmentação sem precedentes, uns são aliados ao governo do PT quando antes devotavam sua lealdade ao velho. Outros se espalharam no setor privado e vão muito bem, obrigado, com contratos até mesmo com o governo atual, que o diga as empreiteiras. Alguns permaneceram na burocracia do estado, a contra gosto ou não, prestando seus “serviços”. Portanto ficaria a pergunta: em que medida um grupo, mesmo fragmentado, mas com suas posições e interesses preservados, se não ainda mais ampliados, iriam se abrir para o risco?
O governo Wagner faz questão de que as coisas permaneçam do jeito que está. Para isso agregou o PSD ao governo, entregou-lhe uma das principais secretarias do estado. Eventos, como a Stock Car, garantida até o ano de 2018 em concorrência a uma política de esporte mais plural e menos seletiva, evidenciam, além do hobby do governador por alta velocidade, as disponibilidade das tetas do estado aptas a serem chupadas até sangrar. Sem contar obras como a construção da ponte de Itaparica e o Porto Sul frente às carências estruturais básicas de saneamento, dentre outras. Mas aqui seria importante um levantamento dos números para comparar os padrões de investimentos e assim verificar a pertinência dessa crítica, pois parenta o governo Wagner estar trabalhando de forma interessante no interior do estado. Todavia, essa posição confortável do grupo antes coeso adepto ao carlismo paradoxalmente é mantida pelo governo Wagner que optou por não assumir custo e impor uma política de contraste explicito ao anterior governo. Logo, falar de que a elite está aspirando pela retomada carlista é complicado.
O novo no carlismo está não em ser usado pelo PT para legitimar o seu poder simbólico de contestação ao status quo, isso já é quase um direito conquistado, mas, agora, é usado para a difícil missão de se colocar como novo e combativo, e não como “continuidade”, consequência de quando passa a ser governo. Assim o carlismo é ferramenta para aglutinar os indecisos e combativos e temerosos ao seu retorno. Além do fato como você bem colocou: agora é utilizado por ACM Neto... Pois é o carlismo não acabou nem é o que fora, nem será tão cedo exterminado, e o PT agradece por isso, se não seria difícil ter o que combater, embora, talvez, seja essa mesmo a intenção, ficar a disputa limitada aos muros do partido como era no carlismo.
Então, como ainda não estamos no segundo turno, quem não quiser votar em Pelegrino ou ACM Neto, sair dessa dicotomia, tem Mario Kertesz, Hamilton, Da Luz, Márcio Marinho bem como pode se abster, e pagar uma multa menor do que três reais, votar nulo, branco e, quiça, na próxima eleição, candidatar-se.
Abraço forte.
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