*Cláudio André de Souza
A
derrota de Antônio Carlos Magalhães nas urnas em 2006 precipitou em alguns a
convicção do fim do carlismo na Bahia. Embora as alianças do governador Jacques
Wagner (PT) incorporaram grande parcela da base partidária derrotada, a
permanência do grupo carlista como a segunda força política do Estado reforçam
a conclusão de que o espólio político de ACM segue protagonizando a política
baiana. Atualmente, o líder deste projeto é o Deputado Federal ACM Neto (DEM).
A sua
segunda candidatura a Prefeitura de Salvador representa sobretudo um projeto
partidário nacional, que busca continuar existindo diante da insignificância
cumulativa com a perda de espaço nas últimas eleições federais. A criação do
PSD enquanto dissidência do DEM consolidou esta crise vivida desde a vitória de
Lula em 2003.
O
propósito da candidatura também é a permanência do DEM como a segunda força
política do Estado. Desse modo, a liderança na intenção de voto de ACM Neto em
todas as projeções realizadas representa o esforço de um projeto local que
também se baseia em uma articulação nacional. Trata-se da principal candidatura
do partido e um dos principais palanques para a caminhada da oposição ao PT em
2014.
As
últimas pesquisas eleitorais refletem o crescimento da candidatura do petista Nelson
Pelegrino e expressam a tendência de melhor pontuação do ex-prefeito,
empresário e radialista Mário Kértsz (PMDB). Porém esse cenário exclui uma queda na intenção de
votos em ACM Neto. Os outros sobem, mas ele não decresce.
A
tradução até aqui destes resultados revela a candidatura democrata como
“mudança”, ao mesmo tempo em que a campanha promove de toda forma um resgate
sutil do avô na campanha em jingles e
slogans que afirmam faltar liderança e alguém para defender Salvador. Tal
discurso se assemelha a estratégia do avô no inicio da década de 1990,
consolidando seu retorno ao governo do Estado após derrota para Waldir Pires
(PMDB) em 1986.
A
“continuidade” nesta eleição é o PT, fruto do governo estadual, percebido como
responsável em parte pelos problemas políticos e administrativos vividos na
cidade. A intenção de voto no candidato petista esbarra na avaliação do governo
estadual feita pelo eleitor, bem como o “vazio” administrativo na cidade. O êxito
do PT perpassa pela condição de defender o que foi feito em Salvador pelos
governos estadual e federal.
Neste
raciocínio do eleitor soma-se a percepção em parte do eleitorado que o carlismo
sempre inspirou eficiência nas questões administrativas e de infraestrutura,
uma vez que a corrupção não é um desvio para poucos. Isto justifica, em parte,
a imersão de ACM Neto em um discurso de modernização administrativa da cidade.
Sabe ele que não tem como prometer demais, já que não pertencerá ao grupo
político governista em nível estadual e federal, ambos sob a liderança do PT.
Seu discurso se volta, portanto, as questões internas.
Surge
novamente nestas eleições o discurso técnico de capacidade de gestão a partir
das indicações sem carimbo partidário. Mais uma vez se assume o valor pela “tecnocracia”
semelhante ao que o carlismo defendera ao longo do tempo, ou seja, a ocupação
dos cargos políticos com nomeações de perfil eminentemente técnico, como Mário
Kertész, que se tornou aos 26 anos Secretário Estadual de Planejamento.
ACM
Neto tem chances de sagrar-se vitorioso nas urnas no primeiro ou no segundo
turno, mas, sua candidatura ratifica uma conjuntura de retorno potencial do DEM
ao cenário politico baiano, acenando para uma encarnação que se exprime nas
elites, mas, sobretudo, na sociedade civil. O carlismo assume na campanha de
Salvador um caráter emblemático na medida em que mesmo que ACM Neto não
propugne o retorno do carlismo, não se afasta dele em nenhum momento, mesmo se
cogitando alianças e compromissos ousados ao conservadorismo do seu partido.
A sustentação precária de sua candidatura em uma coligação com pouca relevância eleitoral (caso do PSDB, PPS, PTN e PV) na Bahia dará trabalho as análises futuras necessárias em torno do fenômeno carlista e do que resultará esta candidatura nas urnas enquanto poder simbólico, politico, econômico, cultural, etc. As urnas indicarão quais fenômenos serão observados daqui em diante.
* Professor de Ciência Política da Universidade
Católica do Salvador e Doutorando em Ciências Sociais (PPGCS/UFBA).
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