Por Cláudio André de Souza*
Ainda não é possível compreender a magnitude do impacto da onda de greves dos servidores federais nas eleições locais. No entanto, a popularidade do governo e a dinâmica singular das eleições municipais afastam a priori o naufrágio antecipado do PT. Vale lembrar que escândalos e desgastes com segmentos da sociedade não impediram a reeleição de Fernando Henrique Cardoso em 1998. No pleito de 2002 a volta de Antônio Carlos Magalhães foi consumada nas urnas após ter renunciado ao mandato por violação de sigilo do painel eletrônico da Casa.
Embora se saiba que estas greves pouco apontam uma iminente crise política do governo, é fato a disputa de interesses no conjunto da “base aliada” do PT na sociedade civil, particularmente no movimento sindical, que obteve significativos ganhos salariais e reformulação de carreiras nos dois governos do Presidente Lula. O atendimento parcial dos interesses sindicais no período de Lula representou um conjunto de fatores (inclusive de vontade política), ou seja, as contingências do governo Dilma não se expressa, talvez, somente por razões econômicas.
O conflito entre governo e movimento sindical adquire maiores proporções ainda pela militância intensa dos partidos de esquerda que se opõem ao PT: o PSOL, PCB e PSTU. Não é a toa que algumas mobilizações têm sucedido em segundo plano um acirramento no interior das categorias, especialmente, em torno das propostas e da postura em relação ao governo do PT. Estas disputas adquirem contornos partidários. Tais conexões entre sociedade civil e sociedade política são, sobretudo, características da democracia.
Sendo complexo afirmar que o desempenho eleitoral do PT sofrerá abalos com as greves, é essencial observar a articulação dos atores políticos que, em grande medida, são os pilares da presença e influência do partido nos movimentos sociais. A mobilização sindical antes de um projeto eleitoral interessa estrategicamente aos pequenos partidos de esquerda, pois valorizam a influência dos movimentos sociais acima do êxito nas eleições, porém, isso não exclui a oportunidade de desgastar o PT entre os segmentos de influência do partido na sociedade civil.
Vale a pena se atentar, portanto, ao desempenho eleitoral destes partidos, mas, sobretudo, a influência nos movimentos sociais daqui em diante, ainda um território da política com grande influência do PT, mesmo após a transformação do seu projeto político, que foi homologado pela eleição de Lula em 2002. Tais mudanças do partido não significaram um rompimento com a sociedade civil, pois também se torna essencial perceber que ainda é o PT o partido mais significativo no movimento sindical, logo, a representar politicamente tais segmentos nos parlamentos. Se as greves irromperam novas lideranças do PT da sociedade civil para a sociedade política nas eleições subsequentes a sua fundação, as greves em andamento talvez não tomem rumos estranhos a esta lógica. Neste aspecto, as greves podem indicar mudanças políticas no interior dos movimentos e até no staff eleitoral do próprio partido. A greve é um indicativo de mobilização, mas, sobretudo, de representação política.
* Cientista político, professor e doutorando em Ciências Sociais (UFBA). E-mail: clandresouza@gmail.com
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