sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Debate e Eleições

Segue abaixo uma resposta minha a um artigo veiculado no jornal A tarde ontem, 12, pelo jornalista Newton Sobral.






Dilma foge do debate

Newton Sobral Jornalista newtonsobral@atarde.com.br
Reduzir ao mínimo possível a exposição de Dilma Rousseff em debates e entrevistas fora do controle oficial é, sem dúvida,umadas estratégias de campanha do PT. A outra é usar o imenso poder presidencial de Luiz Inácio para,numjogo desleal, esmagar o adversário.

OsmarqueteirosdeDilma,conscientesdas suas limitações, procuram preservá-la. Receiam, por certo, que alguma pergunta mais complexa a leve a uma resposta inadequada e acabe expondo, mais ainda, o seu evidente despreparo para o exercício do cargo.

Dentro desta diretriz, negou-se a ser entrevistada por Míriam Leitão na Globonews, não compareceu à sabatina, já agendada, da Folha de S. Paulo e nem ao “Candidatos à Presidência falam aos empreendedores do Brasil”, promovido pela Associação Comercial de São Paulo. Concordou apenas em participar de cinco debates, um deles via internet e os outros promovidos pelas televisões, iniciando pelo da Band, no qual mostrouse bastante insegura, comportamento repetido no Jornal Nacional. Está claro, por conseguinte, que, devido às suas deficiências, teme se expor ao julgamento crítico dos eleitores.

Enquanto isso, Lula, abusando da nossa boa-fé e montado nos seus 80% de aprovação, impôs ao País o sofisma – que pode ser legal, porém eticamente condenável – segundo o qual, na condição de cidadão, tem o direito de participar da campanha nas horas vagas. Estabelece assim uma competição desigual, ao levar para o palanque a autoridade, o poder e as atribuiçõesquelhesãoinerentescomopresidente, exercendo, obviamente, imensa influência sobre o eleitorado.

Na realidade, ele está fazendo política partidária e pondo a estrutura da Presidência – transporte, segurança, assessoria – a serviço da campanha. Prova isto o fato de a sua programação de viagens – diz a revista Veja – estar sendo pautada pelos comícios de Dilma, de modo a lhe garantir o comparecimento “depois do expediente”. Prática, acredito, merecedora de uma melhor avaliação pela Justiça Eleitoral




Debate e eleições

      Nas democracias “realmente existentes” têm sido comuns eleições baseadas em sufrágio universal apresentarem formas de propaganda empreendida pelas candidaturas semelhantes ao mercado que busca vender um produto ou serviço. No mercado do voto, busca-se posicionar o candidato em marcha numa relação de comunicação com os eleitores.
      Estudos da Ciência Política ao longo do século XX identificaram a relativa eficácia das técnicas de propaganda quando, na verdade, a decisão do voto pelo eleitorado leva em consideração outras variáveis. No Brasil, por exemplo, a amizade, o acesso facilitado a serviços públicos e os benefícios materiais gerados por uma candidatura podem decidir o voto mesmo que o suposto candidato tenha pouca ou nenhuma propaganda massiva (cartazes, santinhos, panfletos, balões, etc.).
      Por que falar disso? Na edição do dia 12/08/2010, o jornalista Newton Sobral afirmara que a candidata Dilma (PT) foge ao debate. É desejável e necessário que os postulantes ao governo participem de debates. Embora a democracia seja a forma de governo mais propícia ao diálogo por garantir uma pluralidade de vozes e interesses no jogo político, devemos questionar a qualidade do diálogo, em que medida ele é ou não agregador ao sistema político. Um debate pode ser para trinta pessoas e ser qualitativamente precípuo à cidadania. Ou, inversamente, representar lobbies e interesses privados infiltrados numa plataforma de governo. Sendo assim, um candidato não é mais ou menos democrático pela simples presença em debates. Estes não influenciam determinantemente na escolha do voto. Aliás, os televisivos têm deixado pouca contribuição aos eleitores. As entrevistas da Rede Globo com os candidatos a presidente nesta semana, ancoradas no Jornal Nacional, mais pareceu uma redação de revista de “fofocas” do que um espaço voltado para pensar a grande política e respectivos temas nodais ao país, além de uma agenda social e econômica. Os maiores, que colocam os candidatos frente a frente, têm deixado de lado temas/tópicos para privilegiarem perguntas diretas entre os candidatos, abrindo espaço para “pegadinhas” e confrontos que aquecem um auditório, mas deixam de lado a perspectiva de gerar interesses e agregação dos eleitores em um projeto político a partir de uma educação político-cívica.
      Diante de uma ferramenta caduca e pouco politizada, em suma, Dilma não foge dos debates. Ao contrário, prioriza os principais e reconhece a importância dos que podem possibilitar um melhor retorno político. A lógica é de soma-zero: estar em um lugar é deixar de ir a outros também essenciais à campanha. Lula está nas regras do jogo: ser presidente não é um aparte da política, mas, decerto, um princípio de república. As condições da sua participação na campanha passam ao largo de um abuso de poder. A sua presença na campanha se dá no apoio a um projeto político que preza pela continuidade do seu governo. Fazer política partidária é legitimo e propulsiona a democracia quando constitui os partidos como suas instituições vitais das maior importância ao sistema politico.

Cláudio André de Souza. Professor, pesquisador e aluno do Mestrado em Ciências Sociais da UFba.

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