segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O que quer a oposição?





*Cláudio André de Souza

A característica marcante dos governos petistas tem sido a condução de interesses contraditórios que se valem de reformas graduais ao mesmo tempo em que conserva o status quo. As reformas exitosas baseiam-se em políticas sociais que mudaram efetivamente a vida das pessoas, estabelecendo forte apoio político ao PT entre os eleitores, pois reconhecem o peso desta agenda social enquanto projeto político.

Os protestos realizados desde junho sinalizam um novo cenário político, pois, além das críticas ao conjunto das esferas de governo, apresentam uma pauta de forte conteúdo social, simbolicamente representada pelo debate em torno da vida urbana nas grandes cidades, mas que visa também repensar diversas políticas públicas influentes no cotidiano dos cidadãos comuns.

Neste sentido, a conjuntura política atual potencializa a perspectiva do Governo Dilma em se valer desta agenda social do lulismo enquanto um conjunto de políticas públicas que busca contemplar os anseios da sociedade civil (educação, saúde, mobilidade urbana, reforma política, etc.). Contudo, paradoxalmente, assiste-se a uma oposição pouco decidida a aproximar-se desta agenda social dos governos petistas imantada no eleitorado brasileiro. Ou seja, os partidos de oposição vacilam ao não compreender a centralidade desta agenda social enquanto questão de representação política que já não se figura como “monopólio” petista após os protestos de junho.

O jantar entre Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) é emblemático, pois acena com a possibilidade de aproximação dos tucanos a um partido que valoriza esta agenda social dos governos petistas. Os tucanos sabem que a sobrevivência eleitoral dos partidos de oposição depende do quanto estarão dispostos a incorporar esta agenda social que tem orientado os eleitores nas urnas e nas ruas. Caberá enquanto estratégia eleitoral a estes partidos a tarefa espinhosa de se apresentarem ao mesmo tempo próximos e distantes do PT. Eleitoralmente, a oposição talvez necessite reconhecer que precisa de um novo “prato principal”.


* Mestre em Ciências Sociais (FFCH/UFBA) e Professor de Ciência Política da Universidade Católica do Salvador (UCSAL). E-mail: claudioandre.cp@gmail.com

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