*Cláudio André de Souza
A entrada de Serra na disputa a prefeitura de São Paulo sempre esteve no horizonte da cúpula do PSDB. As movimentações da direção e dos seus respectivos líderes mantiveram o tempo todo o ex-governador no páreo, mesmo a contragosto. A “inevitabilidade” de sua candidatura diz respeito às eleições de 2014. Tal decisão, portanto, distancia-se da dinâmica política da maior cidade do país. Embora nas eleições municipais predominem a agenda local, assistimos nas movimentações atuais dos partidos, seja do governo ou da oposição, a preocupação em se produzir êxitos nas eleições federais.
Essa “federalização” da competição eleitoral - tendência confirmada pelas urnas - tornou-se emblemática nas últimas semanas com o mistério em torno da candidatura de Serra, que envolve a sucessão de Kassab, principal líder do neófito PSD. Menosprezando as prévias em torno de quatro pré-candidatos, o PSDB deu um “cavalo de pau” para acomodar Serra no cenário eleitoral de 2014. Com a saída dele do páreo, conforme já havia anunciado FHC pela imprensa, deixa-se o caminho livre para Aécio.
A pressa em ambas definições é simples. Trata-se das eleições desse ano para prefeito, uma vez que o pré-candidato de oposição, seja quem for, necessita marcar presença nos palanques das principais cidades. A candidatura de Serra serve mesmo a 2014. Por um lado, satisfaz sua cobiça em se manter em evidência no staff tucano (dando sobrevida as suas aspirações) e, por outro, atribui a Aécio a condução da oposição para as próximas eleições presidenciais.
O episódio tucano em torno da candidatura a prefeitura de São Paulo põe em xeque a capacidade do partido em conduzir um projeto político alternativo ao bloco partidário liderado por Lula e o PT. Sem se aproximar de um conjunto de novas práticas que o conecte as bases, grupos e movimentos sociais, o partido aposta suas fichas (o retorno secundário de Serra e a ascensão de Aécio como líder da oposição) em dois nomes afastados da massa do eleitorado e, até então, ineficazes na aglutinação de uma frente política ampla e popular mais do que uma mera coligação eleitoral, conforme se pensou como um dos princípios de refundação do partido após a derrota sofrida em 2010.
As próximas eleições serão fundamentais aos partidos oposicionistas, em especial ao PSDB, uma vez que o futuro impõe a capacidade em constituir alianças “por baixo”, que sejam preponderantes na condução de adesões formais e informais de partidos alinhados com os tucanos e frações de quem até aqui caminha na base governista. Além disso, há a possibilidade da aproximação com o eleitorado e a renovação de lideranças locais que protagonizem a cena em 2014. A saída “honrosa” ofertada a Serra pela cúpula do PSDB evidencia os limites e desafios do retorno do partido ao Palácio do Planalto.
(*) Cientista político, professor e Doutorando em Ciências Sociais pela UFBA.
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