terça-feira, 5 de julho de 2011

A OPOSIÇÃO DE FHC



Por Cláudio André de Souza*

A política definitivamente não é um objeto mórbido. No início do ano ao se renovar os mandatos legislativos a imprensa e seus analistas políticos, de um modo geral, calculavam que o Senador Aécio Neves (PSDB) se tornaria a estrela maior da oposição, quiça, do país. Sem “estrela” a brilhar em igual monta (José Serra saiu derrotado das urnas e sem mandato para dar visibilidade e sobrevida a uma candidatura futura), o caminho se mostrava aberto ao senador mineiro, reconhecido como pré-candidato a presidente em 2014 até pelo mundo mineral, dimensão “reconhecida” pelo jornalista Mino Carta. Alguns governistas como o pernambucano Eduardo Campos (PSB) chegara a propor que a força de Aécio deveria ser levada em consideração pelo governo, sendo ele um nome que poderia ser pensado para a sucessão de José Sarney na presidência do Senado (leia-se com o apoio da base governista).

Nos holofotes mais por analistas da imprensa que por “mérito”, Aécio travou nos primeiros meses do ano uma batalha interna para destravar o PSDB e sua máquina partidária, controlada por botões paulistas. Ganhou. Mas sem exposição pública, o que delineou ser a vitória pessoal ante a primazia de ideias e concepções. Fez um trabalho de bastidores. Deles saiu em seu primeiro discurso no senado, ressaltando as mesmas bases que a campanha de Serra havia montado nas eleições como crítica aos governos do PT: incompetência e falta de ética. Também referiu-se a oposição , mas, ao mesmo tempo, valorizando o diálogo com o governo, a saber, talvez, que dele e só dele pode extrair forças contundentes para uma candidatura potencial em 2014, se não quiser morrer na praia.

O balanço da atuação dos oposicionistas no primeiro semestre rende-se a institucionalidade formal, sendo incapaz de articular uma agenda de peso colada às demandas da população, forjada a um projeto político e eleitoral. Em um cenário que não possui agenda e atuação parlamentar de destaque, a oposição viu-se sem força para pautar a sociedade civil. Obteve êxito em criar rusgas no processo legislativo, obstruindo pautas, esvaziando plenário, comissões, etc. Acabou sendo atropelada pelos fatos enquanto esteve seduzida pelas primeiras iniciativas de Dilma relacionadas ao controle das contas do governo e a um aceno de respeito e civilidade com os adversários.

Por ordem da virtú, seis meses foram suficientes para o ex-presidente Fernando Henrique desbancar Serra e o Aécio: foi personagem central de um filme, lançou um manifesto "teórico-analítico" por uma nova agenda da oposição, manteve considerável espaço na direção do PSDB e tem dialogado com o governo interesses/opiniões com cobertura da mídia, etc.

Sem mandato e pretensões por ora verbalizadas, FHC tem recebido grandes holofotes, como dos seus 80 anos com direito, inclusive, a mensagem da presidente em relação a sua contribuição à política e ao país. Enquanto a oposição não constrói um movimento político contundente, o governo petista apresenta: a) erros e problemas na coordenação política, inclusive, na relação com o legislativo; b) processo confuso de montagem da máquina administrativa com nomeações; c) agenda de governo sem formatação (reforma política, projetos de lei, sigilo eterno, etc.;) d) conflitos de posições no governo com uma coordenação institucional enfraquecida pela queda de Antonio Palocci.

Se Aécio depender da oposição "realmente existente" poderá sair ainda mais enfraquecido do senado para a disputa eleitoral. Ainda mais por que o legislativo é um das instituições de maior desconfiança e reprovação por parte dos cidadãos. O futuro do senador mineiro está a conformar-se na capacidade do Governo Dilma representar os interesses de coalizão, polarizados entre forças conservadoras e progressistas instaladas no seio do governo. O saldo dessa relação estará relacionada a capacidade da oposição em representar os anseios da população, atualmente preocupada em consolidar as bases do desenvolvimento social e econômico instados nos dois governos de Lula.

Nesse cenário, apesar de incipiente, podemos apontar, sem embargo, FHC como a principal liderança da oposição. Não que ele venha a ser candidato em 2014, embora as vezes vacile em transparecer este desejo. A falta de uma oposição forte tem elevado a sua figura, renascida pelo próprio governo, que parece ter dificuldades em coordenar o projeto iniciado sob a gestão de Lula. Falta ao Governo Dilma motivos e habilidades para apresentar o que seu governo deseja, enquanto sobra amarras à continuidade (de nomeações, agenda, projetos, interesses, estilos, etc.) e mediocridade do que tem sido justificado até aqui como coalizão. De uma certa maneira, a inexistência de uma agenda de governo (que não se resume à copa do mundo) prende o palácio a conflitos de varejo que ganham relevância ao sabor das conveniências extemporâneas. Não é a toa que a presidente tem tomado decisões e recuado constantemente. Essa estratégia de "republicanizar" as relações com o PSDB exprime a redoma que o governo não consegue sair pelos princípios que o tem norteado. O terceiro governo do PT e demais partidos históricos corre riscos caso não refunde uma agenda de governo dada sob a estabilidade de uma concertação partidária, o que pode, decerto, revelar ainda mais FHC como liderança virtual da oposição.

*Cláudio André de Souza, cientista politico, professor do IFBA, mestrando em ciências sociais pela UFBA e editor do Pílulas de Binóculo (clandresouza@gmail.com).

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