Por Cláudio André de Souza*
Os últimos lances da oposição DEM-PSDB dão sinais da dificuldade em articular um programa político que represente vigor ideológico e capacidade exitosa de dialogar com o eleitorado brasileiro. As mudanças sócio-econômicas coordenadas por um governo promove novos valores e interesses nos cidadãos comuns. Com o crescimento da economia e a capacidade do governo de gerar mais expectativas, a partir, sobretudo, das políticas sociais mais amplas, os cidadãos comuns estão mais “exigentes”. Assim, o governo corresponde a maiores responsabilidades compartilhadas na gestão de um “bem-estar”. Isso leva a uma politização da sociedade ao passo que esta sabe a quem cobrar, no caso de um fracasso nas expectativas e no “nível de vida”. O neoliberalismo foi expert em por em jogo mais atores na responsabilização de direitos e políticas públicas, em destaque o mercado. Em geral, o neoliberalismo “desgoverna” a sociedade, a partir do desmonte do Estado.
A criação do PSD até aqui capitaneada por figuras tarimbadas da oposição, em sua grande maioria, tem concentrado esforços em dialogar a favor de um habitat no entorno do governo. Mas não sob a insignia de cargos e barganhas de recursos, comum no estabelecimento de uma coalizão no inicio de cada governo. O PSD tem dado sinais de aproximação do “espírito” da coalizão vitoriosa nas urnas nas últimas três eleições. Daí os impasses traduzidos no discurso do Prefeito de São Paulo, a definir que o seu partido não é de “direira, centro, ou esquerda”. Mas o que será afinal?
O êxito eleitoral do projeto petista resultou nas últimas eleições da habilidade em atrair forças partidárias com trajetória muito mais próxima do DEM (ex-PFL) e o PSDB. Estes setores estão a gravitar no governo, mas com agendas consideráveis de dissenso, como é o caso do código florestal, em processo de votação. Ou em pautas polêmicas, como a criminalização da homofobia e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Como produto da governabilidade, não será surpresa se tivermos uma oposição de dentro do governo mais eficaz e produtiva que a “de fora”, envolvida nas concertações de poder e atropelada desde já pelas eleições de 2012 sem definir-se peremptoriamente de que lado está.
O melhor à oposição, talvez, seria uma refundação sob o jugo de um grande ciclo de debates que envolva a construção de um programa. No entanto, parece que o pragmatismo está a prevalecer sobre uma agenda de fusão e alianças para as eleições de 2014.
Enquanto isso, as “oposições de dentro” prevalecem tensionando a coalização governista. Se o DEM-PSDB continuarem a concentrar energias em favas contadas, podem assistir o PSD se estabelecer como um partido governista ou de oposição, mas sem o radicalismo comum aos tucanos, que atrairam nas ultimas eleições uma parcela conservadora de direita do eleitorado, incomum, sobretudo, aos governos de FHC, última experiencia exitosa dos tucanos e democratas. Decerto, o futuro da oposição está confiada a sua capacidade de construir um novo caminho. Afinal, o tempo passa.
*Cláudio André de Souza, cientista politico, professor do IFBA, mestrando em ciências sociais pela UFBA e editor do Pílulas de Binóculo (clandresouza@gmail.com).
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