Muito se assiste nas cenas e “tomadas” dos pré-candidatos em geral articulações com partidos, setores econômicos e lideranças políticas. Neste período da política é legitima as movimentações dos partidos como entes entrepostos dos futuros eleitos e eleitores, segundo o filósofo político Norberto Bobbio. Neste referido tempo se observa as ações de gabinete mais do que as de “rua”, em contato direto com os eleitores.
Nas sociedades contemporâneas é comum o sentimento de não estar sendo representado pelos políticos profissionais, os representantes eleitos. A cientista política Nadia Urbinati, professora da Universidade de Columbia (EUA), salienta que as eleições engendram os representantes e não a representação. A qualidade da democracia reside, decerto, na capacidade de cumprimento de uma representação política democrática e ativada pela ação e militância de bons representados em contato com seus representantes e vice-versa. As negociações de gabinete comuns nas pré-campanhas se amarram a um cálculo de que potencial terão as chapas em colar no eleitorado. Busca-se a maximização de busca pelo voto.
Na Bahia, neófita em valores e atitudes de crença democrática, temos observado o desenrolar de costura de chapas coerentes com as suas trajetórias e projetos políticos. O projeto do PMDB de Geddel Vieira Lima apresenta até aqui de acordo com as inserções publicitárias do partido na TV um possível plano de governo que fomente o desenvolvimento econômico para a Bahia, sendo o Estado símbolo de obras e investimentos de infra-estrutura que permita uma maior economia para os baianos. Tal desenvolvimento é intercambiável e semelhante com os termos do projeto de modernização conservadora do carlismo nos últimos tempos. Não é á toa, hoje o PMDB tem em suas fileiras os quadros advindos do PFL (hoje DEM), PP, PR (ex-PL) e demais partidos e grupos regionais que compuseram o carlismo nas últimas décadas. Mudaram para o PMDB para compor a base de apoio do governo Wagner. Em Salvador, o DEM e o PMDB saíram unidos do segundo turno em 2008 ao derrotar o petista Walter Pinheiro. O DEM e o PSDB irão apresentar nas eleições temáticas e ações convenientes ao Estado que tem maior saliência à população. Carentes de prefeitos e “cabos eleitorais” com força no interior, Paulo Souto (DEM) e sua chapa buscarão votos em contato direto com o eleitorado ao apelar para a resolução de problemas que afligem a população. A força de José Serra (PSDB) poderá ajudar a impulsionar a campanha do ex-governador chegando a locais estranhos ao mapa eleitoral original. Inevitavelmente terá que comparar a sua gestão passada no governo do estado com a atual. Por último, o PT apresentará a consecução de um governo que cresce a economia com justiça social, distribuindo atenção e políticas públicas a favor de quem mais precisa. O governo apresentará um leque de ações a serem explorados como outro tipo e modelo de gestão, voltados para uma democracia social e republicanista na gestão pública. A perda do apoio de César Borges foi coerente à cena política: não há afinidades, valores e interesses do Senador com o projeto do PT, mas com setores a que sempre esteve vinculado e que agora marcham no PMDB. Os petistas a favor da aliança sustentavam-na internamente mais pelos interesses nacionais do que os do estado, além do pragmatismo eleitoral do cálculo de que entre o senador e o partido há pontos em comum. Poderá haver dependendo da agenda de interesses e valores o governo tomará pra si. Nesse sentido, o governo esquadrinha a estratégia da realpolitk de que só sairá vitorioso nas eleições se tiver um amplo apoio de lideranças, prefeitos e partidos.
O quadro político das próximas eleições poderá se aproximar de uma representação democrática. Deve decorrer, se for o caso, de debates e ações que os candidatos terão com os eleitores e vice-versa. Alianças que privilegiam o resultado eleitoral como um fim não aprofundam um paradigma democrático de relação eleito-eleitor. É democrático os partidos agirem na certeza de que os eleitores pensam e agem de acordo com as suas decisões? A política dos políticos necessita incorporar na campanha que democracia estará em jogo caso logrem êxito. A sociedade civil necessita se politizar e fugir da redoma neoliberal de que o mercado encaminhará as melhores resoluções da vida social. Este debate ainda cabe à política, ao ideal de república.
Nestas eleições, temos a oportunidade a partir da sociedade civil e dos partidos de termos uma disputa eleitoral que faça das alianças uma concertação coerente entre representantes e representados, que valha o peso dos eleitores de fato.
*Cláudio André de Souza é professor e Mestrando em Ciências Sociais (UFBa)
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