sexta-feira, 16 de abril de 2010

A coerência da política


      Esta semana assistimos a uma “reviravolta” na política baiana. Depois do PR formalizar nacionalmente apoio a candidatura de Dilma Rousseff (PT), o Senador César Borges decide não apoiar a reeleição de Jacques Wagner e seguir para um ninho a qual esteve nas últimas décadas. Se o PMDB tem o atual tamanho, deve-se ao fato de ter servido de porta de entrada para o governo de coalizão do PT. Boa parte das suas fileiras (prefeitos e vereadores) veio do carlismo derrotado nas urnas em 2006. De lá saiu César Borges rumo a um “novo” espaço, distante de uma ruptura com o seu legado, aliás, como deixou claro em artigo publicado pelo A Tarde intitulado “uma nova política para a Bahia”. Em 2008 o seu novo partido, o PR, apoiou o DEM do então candidato ACM Neto, que apoiou o PMDB de Geddel no 2º turno contra o PT. O raciocínio é óbvio: César Borges voltou ao lugar do qual nunca saiu. A sua ida ao PR não configura uma performance de abandono de um projeto político que engendrava no PFL (hoje DEM).
      A parceria com o PMDB se conforma em um projeto político e econômico que tem o ímpeto de modernizar economicamente a Bahia, visando amplo apoio das elites econômicas que ACM tão bem compôs e conduziu até sua morte. O PT negociou o apoio destes setores, mas discursando que a sua ação maior tende a “fazer mais para quem mais precisa”. Geddel imbui-se de conduzir a “história econômica” da Bahia a um mosaico de modernização com semelhantes traços do que representou o legado de ACM e seu grupo nos últimos quarenta anos.
      O cenário da política baiana é coerente até aqui. Não seria se o PT compusesse com César Borges e vice-versa. Ambos constrangidos, a aliança entre eles representariam as nuances da real política, comum aos partidos de esquerda que, uma vez nos governos, tendem a se aliar a setores dominantes da economia e da política para a garantia das condições de governabilidade. Os principais partidos do país têm incorporado o procedimento de unir-se na convergência de serem eleitos e na divergência de tomar decisões. Por que o PT queria o PR? Quem vai abrir mão do quê num suposto governo? Como pensaria e agiria um governo com tais atores?
      O mais fragilizado nesta situação foi o PT que acenou favorável a compor com César Borges, identificando que não vê problemas em subir em palanques da direita. Isso não significa que o partido irá perder as eleições, mas, ao contrário, até pode aumentar o estímulo da militância em vencer os adversários tradicionais rotulado de “carlistas”. Até por que, a política já provou que alianças são importantes não mais que a busca voto a voto, na rua, para além de gabinetes. O PT vive um dilema comum da esquerda: até que ponto compor com setores adversários estrategicamente do partido? Vale a pena? O parâmetro é o socialismo? Longe do pragmatismo eleitoral, ainda é tempo de reflexão e coerência da política. 
Cláudio André de Souza - Mestrando em Ciências Sociais (UFBA).

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