Há algumas semanas a imprensa vem pautando com afinco as movimentações que os grupos políticos estão a esboçar para as eleições majoritárias ao senado em 2010. As peças estão a se mexer no tabuleiro da política baiana. Com duas cadeiras a se ocupar nas próximas eleições em outubro, tanto governo e oposição costuram as possibilidades que alinhe um bom desempenho eleitoral nas eleições estaduais com os projetos nacionais capitaneados pela disputa presidencial de maior tom entre o PT e o PSDB.
Das movimentações a se encaminhar a que mais os holofotes tem se inclinado é que candidatos o PT irá apresentar para o próximo pleito. Conscientes das necessidades de ampliar o leque de apoios após o rompimento com o PMDB do Ministro Geddel Vieira Lima, pré-candidato ao governo, os petistas sabem que dificilmente arrancarão apoios a Wagner e Dilma de prefeitos que migraram da base carlista para o PMDB após a vitória de Jacques Wagner em 2006. Daí as atenções em como acomodar a outra parte desta “estrutura” carlista que aderiu ao governo Wagner principalmente após o vôo solo do PMDB sem definir objetivamente que projeto o governador deixou para trás, em descumprimento ao ancorado nas urnas em 2006. Sendo assim, os grupos nunca afinados com o projeto petista (anti-carlista) até então vêm a reboque estadualmente a partir das aproximações reproduzidas no plano federal. Lá o PP, PR e PRB e demais partidos de centro-direita estão muito próximos de um apoio a candidatura de Dilma à presidência.
A estratégia petista na Bahia para 2010 se repete: precisa-se de grupos e nomes, como foi dado pelo PMDB em 2006, “palatáveis” politicamente à população, envolta em interesses econômicos e opiniões mais afinadas ideologicamente a estes partidos. O PT busca repetir em 2010 o que foi exitoso nas últimas eleições, ou seja, atrair votos de quem não votaria numa chapa mais à esquerda caso o PT estivesse apenas com seus pares tradicionais, leia-se, PCdoB, PSB e PV. Este raciocínio, grosso modo, expressa a conformidade em crescer o leque de apoio para vencer 2010 mesmo que seja preciso, como tudo indica, deixar para trás agendas substanciais de interesses e opiniões de trajetória socialista na legenda. Vale destacar que tais contingências fazem coro a maioria dos governos democráticos de coalizão da contemporaneidade.
Embora o enfoque da mídia resuma a importância e a força do PT nas próximas eleições, nenhuma cena mais consistente no diálogo político com a sociedade pode ser vista até agora nas candidaturas ao senado. Figura-se mesmo a situação marginalizada de um sistema político que faz do legislativo um ente submisso ao Executivo, tanto em termos institucionais como em termos de reconhecimento da sociedade, que confunde legisladores como despachantes do prefeito, governador ou presidente. Nenhum nome até aqui se pôs a público para estabelecer-se como um projeto e não como uma “coisa” a ser aventurada em cálculos matemáticos auxiliando os candidatos ao governo. Uma ressalva justa a fazer: os nomes da deputada Lídice da Mata (PSB) e do ex-governador Waldir Pires (PT) conseguiram colocar timidamente um “projeto” na frente da “coisa” ao dialogar com a opinião pública e a sociedade. Este último foi lançado como resposta de parte dos petistas ao governo, insatisfeitos ao vislumbramento da Deputada Lidice da Mata (PSB) ocupar o posto de vice na chapa, sobrando espaço para a acomodação de duas candidaturas ao senado dos neo-aliados do PT, o ex-governador, então PFL, Senador César Borges (PR) e o ex-vice-governador dele: o atual conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), Otto Alencar (sem partido). Tanto o primeiro quanto o segundo já estão muito próximos do partido, mas não sabem como darão consistência a tais relações e que custos politicos podem ter em suas atuais bases, em geral, opostas ao PT nos municípios.
Se não fosse o lançamento da candidatura de Waldir Pires, o cenário político baiano exprimiria hoje uma pobreza política elementar. Seria o senado uma cadeira de menor importância nas chapas majoritárias e seria boa parte dos nomes em cogitação mera “aventura” descoladas dos debates e dos projetos tenazes aos interesses da população baiana. Desse argumento vale-se o fato de pouco espaço e diálogo serem fomentados pelos candidatos, apesar de seus nomes ventilarem os noticiários políticos há meses.
A uma sociedade ainda estranha aos valores e as rotinas de uma democracia torneada por um passado autoritário, só cabe aos baianos politizar (e politizar-se) o debate do que deve ser um senador (a) da Bahia em termos políticos. Dos partidos, em especial o PT, cabe calcular bem para não fazer da chapa ao senado uma acomodação artificial alinhavada entre partidos e eleitores. A serenidade faria bem nessas horas. Há perigo em propulsar candidaturas “lançadas por cima”, em gabinetes, sem prestar atenção ao que é de fato uma liderança política, caro aos conceitos sociológicos. Em outras palavras, de onde vem Otto Alencar e sua candidatura?
Já o PMDB e o DEM não dão indícios concretos a oito meses das eleições de quais nomes comporão o cenário eleitoral da candidatura do Ministro Geddel e de Paulo Souto, respectivamente, resignando a chapa ao senado aos ventos fortuitos da conjuntura daqui pra frente.
Diferente destes cenários, Waldir Pires e setores do PT próximos ao governador mexeram no tabuleiro ao senado quando não minimizou-o a um espaço camaleônico submetido e desprezado pela maximização eleitoral da candidatura ao governo, mas pareou ambas candidaturas em grau de importância e complementaridade. Com isso não marginalizou ainda mais uma instituição, carente de respeito e da “grande política”, nobre e estimulante aos melhores valores democráticos e republicanos.
Cláudio André de Souza é Bacharel em Ciências Sociais/Ciência Política (UFBA) e mestrando em ciências sociais pela mesma instituição. (claudio-andre@hotmail.com)
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