sábado, 6 de fevereiro de 2010

Carnaval, futebol e dinheiro

A cada dia que passa somos tomados por mais reflexões a respeito de que mundo estamos a navegar. Na economia, política, família, trabalho, dentre outras, questionamos que tipo de relações sociais arrolamos. É perceptível à guisa do ato de filosofar, um desconforto que paira no ar, como nos versos cantados por Caetano Veloso de que “alguma coisa está fora da ordem”. Num mosaico de áreas e esfeas, os valores liberais (tradicionais) incrustados nas pessoas estão sendo postos em xeque fruto dos fracassos do modelo de vida e sociedade que levamos a cada nascer do sol. Estamos a refletir mais o nosso modelo de sociedade e de vida.

A dinâmica de contestação da velha ordem capitalista está em curso em maior compasso na política e na sociedade civil. Homens e mulheres, em especial as experiências ligadas à América Latina, têm sentido na pele a condição (in) sustentável da vida moderna e de desprezo pelos valores democráticos e republicanos. A direita se perde nas suas oportunidades rasgadas de se apegar num receituário julgado conservador pelos marxistas, antes revolucionários e corruptores da ordem. Hoje assistimos o inverso: a esquerda se apoderando da “agenda” da direita e a retransformando numa estratégica de “superação” da conjuntura capitalista de economia e sociedade com impasses e desafios à mostra.

Esta semana, Salvador parará para ver os trios passearem pelas ruas. Assistiremos e viveremos a alegria do carnaval tomada pelas suas contradições de ter meninos de rua, trabalhos semi-escravos (cordeiros), gentes tomando porrada por resistirem à supremacias das cordas da separação. A maioria fica fora e os que podem pagar alguma coisa desfilam pelo palco da desigualdade social. A lógica do dinheiro, da patologia de ser “dominante” reinará ao lado do momo. O retrato de termos muitos ganhando pouco ou quase nada frente ao direito de opulência de pouquíssimos faz do carnaval mais um retrato semelhante aos vistos no ano inteiro nas sociedades capitalistas.

O futebol segue o ritmo do carnaval. Esta semana a imprensa divulgou que o Banco BMG criou um fundo de investimentos para gerir jogadores de futebol. A lógica do dinheiro pelo dinheiro que varre o Brasil acentua-se nas movimentações das “financeiras”, acostumadas à agiotagem de fazer empréstimos com taxas de juros inescrupulosas a aposentados.

Apesar da luta dos movimentos sociais e da sociedade civil em se dar o dever de refletir o futuro e o agora de um país que tem uma grande economia e uma pífia igualdade social , geração de justiças e cidadania, a velha ordem é dinâmica e apregoa os seus valores e seu “espírito” com vigor. Em tempos de economicização da vida e da cultura, vale a pena irmos pular atrás do trio, mas convencidos de quais interesses desfilam numa sociedade desacostumada em ter cidadãos participantes e imbuídos na construção do viver em sociedade, um das acepções da política.

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