A cada semana acompanhamos como uma novela sem final feliz os escândalos que arvoram a política brasileira. Das mais variadas “espécies”, todos, sem exceção, apresentam um mesmo mal: a emergência de lobbistas de interesses privados ocupando as instituições representativas em detrimento dos coletivos, dos públicos. A desconfiança que assombra os humores do eleitorado brasileiro resulta da saturação do instituto da representação política e do sentimento de estar sendo representado para a maioria da população. A política tornou-se escola para quem faz age com malandragem para se dar bem, usurpando o papel de buscar a realização de interesses e defesa da coisa pública. A constituição do Brasil e de centenas de sociedades democráticas, como aponta o cientista político Bernard Manin, não contém dispositivos que garantam ao eleitor punir os “maus” representantes. O apego à coisa pública foi arquitetada pelos pensadores modernos em sociedades onde as pessoas não só desejassem, mas a vissem como necessária para a sobrevivência. O liberalismo saltou-se à história das idéias políticas quando deu aos políticos o papel de defender interesses particulares agregados a grupos e setores da sociedade civil, sabendo da impotência de termos um bem comum, mas vários...
O liberalismo hoje estimula a fruição e a realização dos desejos de foro íntimo, privado, traduzido no respeito da sociedade civil (direitos inalienáveis e inacessíveis à esfera política decisória) pelo Estado. Assim, a individualidade estaria respeitada pela política a partir da sua omissão, aliás, não-autorização a mexer, caso queira, em direitos incompatíveis a entidades coletivas.
Os contornos da atual conjuntura assumem nos corações e mentes das pessoas o sentido de que a política virou um lugar para “raposas” conseguirem controlar um valioso “galinheiro”, sendo que a teoria democrática aponta em tese como um lugar só das “galinhas”, as raposas que habitem o mundo privado. A democracia não é totalmente separada da república. Há dificuldades em estabelecer as fronteiras conceituais e práticas entre tais sistemas de viver em sociedade. Vivemos num regime, logo, de usurpação da democracia e do sentimento de república, quando indivíduos passam a se beneficiar privadamente da coisa pública, conectando-se a uma rede de eleitores acostumados a ver, agir e compreender a política como sendo um espaço de beneficio. Privado.
Esta semana entrará em pauta no mundo e, especialmente, no nosso país a realização de diversos pólos de discussão do Fórum Social Mundial (FSM). Trata-se de um espaço qualificado da sociedade civil e de governos de centro-esquerda que questionam a democracia hegemônica de países domesticados ante uma democracia que tem apreço pelo capitalismo de mercado e seu regime de exploração humana das pessoas pelo trabalho. As criticas ao capital a serem avistadas no fórum, direciona-se ao seu modo repaginado, o neoliberalismo, um impasse na agenda dos países latino-americanos. O novo liberalismo reza a defesa de uma sociedade apolítica, onde o Estado seja apequenado pelo mercado (espaço de interesses privados maximizados ante os interesses públicos!). Sabendo que as práticas políticas são sustentadas por valores, idéias e atitudes, o FSM ganha contornos de pensar, criticar e objetivar alternativas ao neoliberalismo traçando, alguns grupos mais outros menos, um reencontro do país com um projeto genuíno de república e democracia. A critica aos receituários do capitalismo ganha impulso no slogan do fórum de que “Um outro mundo é possível”. Há o desejo de sairmos das veleidades do mundo privado, superando-as através da ação de muitos para modificar as estruturas atuais da vida social que acumulam milhas de fracassos na política (democracia e republica), no meio ambiente, na economia, nos direitos humanos, etc. Afinidades à parte, para o bem do futuro, vale a pena o mundo se debruçar nas vozes do presente e dos presentes aos fóruns que varrerão o mundo em 2010 e refletirão, decerto, as saidas para os males que batem à nossa porta.
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