sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Uma reflexão (in) desejada

Os escândalos protagonizados por políticos em tempos de redemocratização do país ensejam diálogos da mais profunda seriedade, para além da superficialidade a qual este debate tem assumido: os ideais de república e democracia que inspiram a nossa constituição se debruçam sob a égide da coletividade, resguardando o direito à intimidade, a vida privada. Diante da defesa dos direitos fundamentais se encontra o compromisso em estabelecer igual atenção a vida pública, o interesse de todos. Os ideais republicanos se confundem com a necessidade de se valorizar o que é de todos, o que é para todos. Nesse sentido, as instituições políticas devem (ou deveriam) refletir o anseio de promover o que tem importância a todos os cidadãos e cidadãs, e, ao mesmo tempo, fomentar uma participação politica fundada no zelo de interesses comuns da pólis. República e Democracia são intercambiáveis nas principais sociedades do século XXI. Entretanto, passam por uma profunda crise aberta como um fosso entre a teoria e a prática.

Os reflexos de uma modernidade radicalizada assistida e vivida nas principais sociedades contemporâneas apontam um paradoxo entre valor e fato: de um compromisso das pessoas com a democracia passa-se a um profundo descontentamento destes com as suas instituições (políticos, partidos, congresso, governos, etc.). As insatisfações com a “democracia formal” em curso em vários países, como apontam os dados dcoletados pela ONG Latino Barômetro que estuda a opinião e a cultura política dos latino-americanos, demonstra a gravidade de uma crise de representação política, onde os indivíduos se sentem cada vez menos representados. A representação política é o pilar da democracia moderna. O viver em sociedade é fiado aos representantes políticos ancorados no sufrágio universal e na constituição dos interesses públicos. A s democracias representativas tem sofrido desgastes quando distancia a população, entretida no mundo "civil" e pirvado, dos politicos profissionais, imbuídos da defesa do eleitores e dos caminhos da nação. A crise deste paradigma é avistada num hiato crescente entre eleito- eleitor, produzindo uma gama de insucessos e uma falta de inovação na agenda dos principais grupos políticos que de envoltos às contingências dos fatos ululam por opção e escolha práticas conservadoras. A política se sobressai como o jogo de escolha dos “menos piores” e a representação política é desprezada enquanto a arte e a criatividade inerente à política: a ação. As pessoas já não acreditam na política como um meio de viver em sociedade, se sentem desprezadas e desconectadas da política quando projetam a sua vida social. A política tornou-se um grande negócio privado ao olhar iluminado das pessoas, apesar das contestações advindas do cenário latino-americano de reformulação da política como um projeto de vida e de sociedade. Brasil, Bolívia, Venezuela, Equador, dentre outras nações adentraram o novo século rabiscando um futuro pela discussão de agendas envolvendo Estado, sistema político, economia e direitos nas suas mais diversas esferas.

Um dos desafios das democracias do século XXI é reinventar o instituto da representação política. Que relação se espera entre eleitores e eleitos e quais elos conectivos se estabelecem nestes processos, tem ocupado a atenção da Ciência Política em suas agendas de pesquisa. A realidade brasileira, empírica, neste caso, tem sido ingrata com o ideal democrático. Representantes e partidos não aprofundam os caminhos de cura aos males da democracia liberal, fonte de “déficits” e de desconfiança por parte de milhares de brasileiros. Ao contrário, em meio a uma brutal concentração de renda e desigualdade social que persiste como efeito de injustiças sociais, os políticos (representantes) intervêm com aumentos de verbas e salários em causa própria sem um debate sistemático com a sociedade. Os baianos foram pegos de surpresa no último dia político do ano pela decisão dos legisladores estaduais. É de “quantidade” de mandato que precisamos ou da maior qualidade representaviva deles? Falta à política o retorno de debates e reflexões de maior profundidade que coloque em pratos limpos a raiz dos problemas e desafios democráticos, como uma grande campanha e mobilizações pela agenda da reforma política, capaz de deter demais “males” à democracia. A consolidação da democracia brasileira prescinde de qualidade e confiança dos cidadãos. Sociedade civil e Estado não figuram analogamente uma relação “moçinho” e “bandido”. Em 2010 daremos mais um passo político e decidiremos (ou não) sobre o que queremos de Estado e do que seremos de sociedade.

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