Avistar a política em nossas vidas tem se tornado a cada dia uma tarefa inglória e complexa. Nas principais sociedades contemporâneas a política perde terreno para a vida privada, soterrando as vias de efetivação da coisa pública, de interesse de todos e todas. A cada escândalo perpetrado na vida social pelos politicos profissionais, fruto de investigações que demostram a maturidade das instituições democráticas do país, tem-se, por outro lado, a ciência do quão estamos aquém do necessário: uma política enraizada em valores que definam bem a fronteira entre o público e o privado, além da forte participação das pessoas, desfrutando do dever de guiar os interesses individuais e coletivos no jogo democrático. Os paradigmas do governo representativo assentaram-se na capacidade dos representantes refletirem o interesse de todos ao tomar decisões e a presença habitual dos representados na vida política da cidade para além dos escrutínios periódicos. Em tese, o relacionamento pertinente e permanente entre representantes e representados versa-se numa promessa não-cumprida, dentre várias, como enunciara o filósofo italiano Norberto Bobbio.
Dentre o campo normativo da política e a sua efetividade plena, soçobra práticas patrimonialistas de derrocada das fronteiras entre interesses públicos e privados. A representação democrática, oriunda em essência do ato de votar, se afasta ao passo que se vislumbra a política como um grande negócio. Sérgio Buarque de Hollanda, autor de Raízes do Brasil, avaliara certa vez que a democracia no Brasil nunca passou de um grande mal-entendido. O Senado dos “horrores” denuncia que pouco mudou desde a sua constatação. A sociedade civil tem assistido ao desenrolar de uma trama trágica sem ares de novidade, mas só uma a somar-se a uma coleção de malversações ao projeto democrático. O Senador José Sarney (PMDB-AP) é a caricatura do projeto democrático não cumprido e a medição do quanto estamos pertos ou próximos do razoável. De uma institucionalidade engessada, assistimos os partidos politicos das mais variadas matizes mucharem-se frente ao “imortal” tanto por razões pragmáticas quanto pela moderação de quem compreende que o acontecido é normal, sendo muitos desautorizados de cobrar uma ética de lisura que não faz jus à gramática política. A atualidade desnudada prescinde da necessidade de irmos às ruas, de contestarmos algumas regras do jogo em nome das regras do jogo. Nunca a participação foi tão primaz à representação. O desenlace de mais um absurdo brasileiro depende de forças externas ao quadro engessado do institucional. Os movimentos sociais têm mais uma chance de protagonizarem o futuro da política brasileira e o seu encontro com um projeto democrático e republicano, de estima a res publica.
Da putrefação que assenta-se na cadeira da presidência do Senado impõe-se uma quadra histórica de constestação ou de conciliação com o atraso brasileiro, conectando-se as práticas e concepções da sociedade civil em consonância com a esfera estatal. A recusa ou aceitação da conformação da política a partir de um "patrimonialismo de jeitinho", no âmbito da cultura, retém os passos para o futuro da sociedade. Em 2001, a renúncia de Antônio Carlos Magalhães por envolvimento na fraude do painel eletrônico do Senado tendeu ao primeiro cenário. Em 2009, assitiremos ao desenrolar da trama de tamanho semelhante ao ônus causado ao projeto democrático de outrora. Acima de tudo, estamos diante de um dilema: o quanto o Brasil manterá uma democracia de fachada, chancelado por um patrimonialismo repaginado, diga-se de passagem, pelas urnas; ou se repudia tais práticas em nome de uma alternativa para além de um denuncismo barato e moderado e, ao mesmo tempo, de um concilio em nome das razões pragmáticas e das facetas de um jogo tensionado a deixar tudo como está. Cabe acompanhar e agir em defesa de um projeto democrático de fato e o seu reencontro com as bases de uma democracia representativa com traços essenciais de participação.
Dentre o campo normativo da política e a sua efetividade plena, soçobra práticas patrimonialistas de derrocada das fronteiras entre interesses públicos e privados. A representação democrática, oriunda em essência do ato de votar, se afasta ao passo que se vislumbra a política como um grande negócio. Sérgio Buarque de Hollanda, autor de Raízes do Brasil, avaliara certa vez que a democracia no Brasil nunca passou de um grande mal-entendido. O Senado dos “horrores” denuncia que pouco mudou desde a sua constatação. A sociedade civil tem assistido ao desenrolar de uma trama trágica sem ares de novidade, mas só uma a somar-se a uma coleção de malversações ao projeto democrático. O Senador José Sarney (PMDB-AP) é a caricatura do projeto democrático não cumprido e a medição do quanto estamos pertos ou próximos do razoável. De uma institucionalidade engessada, assistimos os partidos politicos das mais variadas matizes mucharem-se frente ao “imortal” tanto por razões pragmáticas quanto pela moderação de quem compreende que o acontecido é normal, sendo muitos desautorizados de cobrar uma ética de lisura que não faz jus à gramática política. A atualidade desnudada prescinde da necessidade de irmos às ruas, de contestarmos algumas regras do jogo em nome das regras do jogo. Nunca a participação foi tão primaz à representação. O desenlace de mais um absurdo brasileiro depende de forças externas ao quadro engessado do institucional. Os movimentos sociais têm mais uma chance de protagonizarem o futuro da política brasileira e o seu encontro com um projeto democrático e republicano, de estima a res publica.
Da putrefação que assenta-se na cadeira da presidência do Senado impõe-se uma quadra histórica de constestação ou de conciliação com o atraso brasileiro, conectando-se as práticas e concepções da sociedade civil em consonância com a esfera estatal. A recusa ou aceitação da conformação da política a partir de um "patrimonialismo de jeitinho", no âmbito da cultura, retém os passos para o futuro da sociedade. Em 2001, a renúncia de Antônio Carlos Magalhães por envolvimento na fraude do painel eletrônico do Senado tendeu ao primeiro cenário. Em 2009, assitiremos ao desenrolar da trama de tamanho semelhante ao ônus causado ao projeto democrático de outrora. Acima de tudo, estamos diante de um dilema: o quanto o Brasil manterá uma democracia de fachada, chancelado por um patrimonialismo repaginado, diga-se de passagem, pelas urnas; ou se repudia tais práticas em nome de uma alternativa para além de um denuncismo barato e moderado e, ao mesmo tempo, de um concilio em nome das razões pragmáticas e das facetas de um jogo tensionado a deixar tudo como está. Cabe acompanhar e agir em defesa de um projeto democrático de fato e o seu reencontro com as bases de uma democracia representativa com traços essenciais de participação.
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