*Cláudio André de Souza
O professor Paulo Fábio (Departamento de Ciência Política - UFBA) chamou a atenção dos leitores e leitoras do Jornal A Tarde a um fato em uma de suas análises eleitorais recentes: o PMDB e suas alas regionais arcarão com a decisão de marchar em um projeto nacional, constrangendo, portanto, uma realidade que o cerca desde a sua fundação, ou seja, o partido como uma federação de interesses regionais. Na conjuntura posta até aqui o partido comporá um projeto nacional a rondar as estratégias de chapas estaduais coadunadas para eleger Dilma Rousseff.
A indicação do deputado paulista Michel Temer a vice na chapa do PT apresenta um cenário adverso a sobreposição dos projetos locais aos grandes interesses nacionais, algo marcante na história do PMDB: a prevalência dos interesses locais neste ano é posta em xeque pelo partido ao se engendrar o engajamento no projeto de eleição da petista. O PMDB promoveu uma série de negociações para prevalecer os interesses locais nos cenários eleitorais de aliança com o PT, mas, ao mesmo tempo, necessitou deixar de lado chapas e vôos solos para endossar coligações afinadas com o interesse nacional.
Há, portanto, uma “novidade” na política do PMDB, a de se apegar a um projeto nacional. Diversos candidatos do partido nos estados não contarão mais com a liberdade de não se engajar efetivamente nas candidaturas nacionais. O partido nestas eleições se “dobrará” ao fator nacional nas estratégias eleitorais. Haverá uma vinculação e a exploração da popularidade de Lula e de seu governo na busca do voto. Na Bahia, por exemplo, o candidato do partido, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, dá o tom de sua candidatura no apoio de Lula e Dilma. O peso dos interesses nacionais (do PMDB) constrange uma possível aproximação sua dos grupos identificados com a oposição ao PT. A escolha do PMDB nacional em se vincular aos petistas nas próximas eleições é determinada em parte pelo sucesso de Lula e das possibilidades concretas de continuidade do governo com a vitória de Dilma em outubro.
A aliança nacional entre PT e PMDB condiciona a composição de chapas a governador no país. Ambos os partidos tendem a subir num mesmo palanque, provavelmente, em dez estados[1]. Em 2006, quando o partido decidiu apoiar a reeleição de Lula, mas informalmente, PT e PMDB saíram vitoriosos das urnas em coligações a governador em apenas três estados: Bahia, Ceará e Sergipe[2].
Estas eleições de 2010 selam uma aliança mais consistente entre PT e PMDB na esfera federal. Invoca ao PT o constrangimento de candidaturas e projetos políticos em prol dos interesses nacionais representados pela eleição de Dilma[3]. Ao PMDB o engajamento nos rincões do país a uma candidata, um projeto, uma chapa. Invoca, assim, a tentativa de solapamento dos interesses locais seculares prevalecentes sobre os interesses e projetos nacionais. O nacional determinando o local tende a ser a tônica do PMDB neste ano.
A influência do PMDB na candidatura de Dilma já é visível. Não é razoável darmos coro a um senso comum que identifica apenas Lula e seu governo como determinantes do crescimento de Dilma nas pesquisas, como a realizada pelo ibope (24/06) que coloca a candidata com 40%, cinco a frente de Serra. Os êxitos colhidos por Dilma, decerto, derivam também do apoio formal e consistente do PMDB. Trata-se do maior partido no congresso, em número de prefeitos e governadores no país[4]. Um partido com densidade suficiente para dar musculatura a chapas e coligações nacionais.
Nas democracias contemporâneas, as alianças entre os partidos políticos são marcadas pelo pragmatismo eleitoral. Apesar das dificuldades perenes do PMDB afinar-se a interesses nacionais, sendo ainda uma federação de interesses locais, a movimentação de compor o projeto governista de continuidade do governo leva o partido a uma dinâmica de equilibrar os interesses locais frente aos nacionais. Destaca-se a prevalência de uma dimensão mais ampla da república, a das questões nacionais. Limitações à parte de um partido que move suas fileiras variavelmente em acordo com governos, tudo indica que nas eleições de outubro próximo teremos um PMDB que não ficará, sobretudo, em muros.
[1] Ver mapa das alianças no site do Estadão http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,pt-e-pmdb-festejam-chapa-presidencial-mas-aliancas-nos-estados-seguem-divididas,565138,0.htm
[2] Ver governadores eleitos e respectivas coligações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Elei%C3%A7%C3%B5es_gerais_no_Brasil_em_2006
[3] Vide a questão do apoio do PT no Maranhão ao PMDB dos Sarney. O partido interveio no PT local demovendo a decisão de apoiar a candidatura de oposição ao PMDB, do deputado Flávio Dino (PCdoB).
[4] Ver lista de governadores e respectivos partidos no site http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_governadores_dos_estados_do_Brasil
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