quinta-feira, 3 de junho de 2010

A oposição baiana em questão

      Pífio destaque foi dado pelos jornais e veículos da grande imprensa comercial da Bahia a pesquisa Vox Populi/Bandeirantes que auferiu em maio as intenções de voto para governador na Bahia. Parcas análises que ponham em questão algumas tendências foram oferecidas ao público, em especial, a de como anda a oposição ao governo estadual. Seguem alguns pontos relevantes para debate nos meios interessados:




Na pesquisa espontânea, a pergunta foi: “Se a eleição para governador fosse hoje, em quem você votaria”?
Jaques Wagner (PT) – 21%
Paulo Souto (DEM)- 9%
Geddel Vieira Lima (PMDB) – 2%
Outros – 1%
Brancos/nulos – 3%
Não sabem/não responderam – 64%


Na pesquisa estimulada, a pergunta foi: “E se os candidatos fossem estes, em quem você votaria para governador da Bahia”?

Jaques Wagner (PT) – 41%
Paulo Souto (DEM) – 32%
Geddel Vieira Lima (PMDB) – 9%
Luiz Bassuma (PV) – 1%
Marcos Mendes (PSOL) – 0%
Brancos/nulos – 4%
Não sabem/não responderam – 13%













1)     O apoio dado por César Borges (PR) a chapa do pré-candidato Geddel Vieira Lima (PMDB) em nada acrescentou a candidatura do ex-ministro do governo federal. Tratado como favorito por muitos militantes de partidos e comentaristas políticos, é questionável que tipo de eleitor pretende votar no candidato, talvez, trate-se dos que advém de um setor tradicionalmente ligado ao DEM e ao ex-senador ACM. Logo, poderiam se inclinar a apoiar o candidato do DEM, Paulo Souto, para o governo estadual;

2)    O resultado de 2% na espontânea evidencia uma possível fragilidade de um partido – o PMDB -  que detém a maior parte das prefeituras da Bahia e recebeu uma boa parcela de recursos do ex-ministro da Integração Nacional, agora pré-candidato ao governo. Estas prefeituras que são do PMDB também contaram com recursos orçamentários do governo do estado e forjaram-se em arranjos políticos nas eleições municipais de 2008 com apoio de demais partidos que estariam atualmente com Wagner. Este quadro tenderia então a uma fragilidade da base eleitoral de Geddel e a sua divisão com a candidatura de reeleição do governador.

3)    A candidatura de Geddel terá que se moldar de acordo com um dado pouco divulgado desta pesquisa: 69% dos entrevistados reconhecem que a candidata do Presidente Lula é Dilma Roussef[1]. Isso por um lado é favorável ao candidato Geddel na disputa dos votos, contudo, a tendência dos votos ao Governador Wagner mostra-se consolidada ao ponto do governo estadual ser avaliado por 44% como ótimo/bom e por 26% como regular positivo. A saída de migrar para buscar os votos no estado ao candidato Serra contrasta com a nítida popularidade e papel decisivo de Lula para os eleitores, visto que 68% dos eleitores votariam com certeza ou poderia votar dependendo de quem seja o candidato do Presidente Lula[2].

4)    O fator partidário este ano na Bahia só tende a privilegiar o PT que segue uma tendência nacional como o partido com a maior simpatia entre os eleitores: 22% dos entrevistados se dizem simpatizantes do PT. Número isolado comparado aos 5% do DEM e 2% do PMDB. Um paradoxo já que este partido detém o maior número de prefeituras na Bahia e no Brasil. Isso demonstra a conjuntura de um partido na Bahia que teve um grande número de prefeitos que migraram do carlismo para a base governista estadual através do PMDB como uma porta de entrada, o que não se traveste em identidade partidária dos eleitores destes municípios que assistiram a migração partidária.

5)    Neste mesmo ponto, é expressivo o número de entrevistados que não tem preferência partidária: 67% (2010, p. 26). Isso reflete os graus baixos de representatividade política, um desafio para as democracias contemporâneas assentadas em cidadãos cada vez mais com o sentimento de não estar sendo representado.

6)    As candidaturas de Geddel e Paulo Souto tendem a uma sintonia em críticas ao governo Wagner que é visto como um governo bom e regular pela maioria das pessoas ouvidas pela pesquisa. Haverá uma tendência estratégica por parte do primeiro em se colocar como uma alternativa a Wagner, sendo o mais preparado para fazer parte do projeto de Dilma enquanto presidente.

7)     Já Paulo Souto vai buscar inevitavelmente os votos indecisos e os de Wagner se deslocando da tendência de angariar apoios reforçando a priori a candidatura de Serra, mas, ao contrário, buscará “sangrar” Wagner sem tocar na tendência inexorável de Lula pesar na definição do voto na Bahia. Logo, um voto Souto-Dilma. Uma tendência em jogo a partir desta situação é Souto não concentrar críticas ao governo federal, distante do que fez em 2006 no auge da crise do mensalão que assolara o PT.

8)    A capilaridade eleitoral do PT contará na consolidação de uma possível vitória de Wagner ainda em primeiro turno. Os movimentos sociais e a militância impactam as eleições a partir de um contingente “espalhado” pela sociedade civil capaz de chegar a espaços que não estão a serem determinados apenas pelo poder do dinheiro e dos recursos financeiros nas eleições.

9)    Há uma tendência a ser analisada de César Borges não sair vitorioso das urnas em 2010, ao contrário do que prevê alguns bastidores da política partidária. Sendo um candidato vinculado a Dilma e a Lula e, portanto, distante das forças políticas tradicionais em sua trajetória e o DEM-PSDB lançando dois candidatos na sua chapa, como ficaria o senador com candidatos de peso e densidade eleitoral no palanque de Dilma como a ex-prefeita Lidice da Mata e o Deputado Walter Pinheiro?

10)        Para um sucesso eleitoral de Geddel será necessário talvez se colocar na disputa ao Palácio de Ondina como um candidato diferente de Wagner e Souto. Ao mesmo tempo, terá que administrar duas questões: i) a sua relação com o apoio de Lula/Dilma permitindo assim uma comparação com Wagner, o outro candidato da base governista;  ii) a sua relação com a principal prefeitura do PMDB: a de Salvador. Em que sentido o Prefeito João Henrique disporá em sua gestão (que tem o DEM como aliado) ajuda ou impedimento para que o candidato consiga maior apoio do eleitorado soteropolitano?

11)  Por fim, há uma tendência da oposição na Bahia em sagrar-se derrotada nas próximas eleições a depender de que cenário e agenda o governo imporá à disputa. Wagner e a sua chapa capitaneada pelo PT são donos do seu próprio destino nas próximas eleições.


Cláudio André de Souza é cientista político, professor e mestrando em Ciências Sociais pela UFBA.


[2] Cf. p. 25, http://www.voxpopuli.com.br/eleicoes_2010/Relatorio_final_PP055_09_R03_Band_BA.pdf

2 comentários:

  1. Contra fatos não há argumentos! O governo deixou muito a desejar em sua gestão. Faltou investimentos na saúde, educação e segurança. Sem contar com as várias denuncias de irregularidades nessas áreas. Jaques Wagner não tem competencia para administrar, isso é fato! Não adianta ficar confabulando teorias, divulgando pesquisas infundadas... Na urna, o que vai pesar é o que foi feito e não foi feito nada!

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  2. SE GEDDEL ESTÁ EM TERCEIRO LUGAR NAS PESQUISAS, POR QUE ENTÃO PT ESTÁ TÃO PREOCUPADO COM ELE?? ESTRANHO! NÃO VEJO NINGUÉM FALAR DE PAULO SOUTO. ELE NÃO É O SEGUNDO COLOCADO? A VERDADE É QUE QUEM ELEGE NESSE ESTADO É O POVO DO INTERIOR E GEDDEL FEZ MUITO PELOS PEQUENOS MINICIPIOS! GEDDEL É UM FORTE CANDIDATO E LULA SABE DISSO! WAGNER É A WERGONHA DO PT! aA BAHIA NÃO REELEGE ELE NÃO!

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