terça-feira, 29 de junho de 2010

Iohanas, Elizas e Marias da Penha. Até quando?


Iohana Michele Santos, uma adolescente de 16 anos foi morta pelo padrasto a facadas no município de Nova Itarana - BA no dia 21 de Junho de 2010. A morte da adolescente teve repercussão estadual. Ela havia denunciado o padrasto pelos abusos sexuais que sofria já a muito tempo. A vítima para se defender além das denúncias a delegacia e ao conselho tutelar havia ido morar com a madrinha. Porém nada disso impediu que o padrasto, Fernando Bispo dos Santos de 32 anos, tirasse sua vida.
Um outro caso ganha nessa semana repercussão nacional. Eliza Samúdio de 25 anos desapareceu. Ela teve um affair com o goleiro Bruno do Flamengo. Eliza lutava na justiça para que o goleiro assumisse a paternidade de seu filho de quatro meses. O goleiro começou a ser investigado após uma denúncia de que uma mulher havia sido espancada no sítio de goleiro. A ex-esposa do jogador Dayane Souza foi presa após a polícia ter encontrado o filho de Eliza em sua posse. Eliza já havia denunciado o goleiro Bruno em maio do ano passado por agressão, ele a teria espancado com mais dois amigos e teria feito Eliza beber algo abortivo. Eliza estava grávida de cinco meses. Segundo o jornal da globo de hoje, até agora o exame de urina de Eliza não que comprovaria que ela teria sido dopada não houve resultado. A suspeita é que vigora agora é de que o goleiro com dois amigos mataram Eliza por espancamento e queimaram as roupas e ocultaram o cadáver.
No dia oito de março deste ano o goleiro Bruno pediu desculpas públicas as mulheres pela infeliz declaração que deu sobre a briga do seu amigo e também jogador Adriano com a então namorada Joana Machado. Bruno havia dado a seguinte declaração no dia anterior: -
"Qual de vocês (jornalista) que é casado que nunca brigou com a mulher? Que não discutiu, que não até saiu na mão com a mulher, né cara?"
Não é novidade esse tipo de caso na imprensa e acho oportuno a reflexão que o goleiro Bruno nos possibilita através dos escândalos em que é protagonista. Muitos homens e mulheres pensam como o goleiro que em sua declaração polêmica desfechou com "Em briga de marido e mulher não se mete a colher". O goleiro naquele dia sete de março passou por cima de uma grande conquista das mulheres brasileiras que é a Lei Maria da Penha. Não só é crime sair na mão com quem quer que seja, como toda a sociedade é responsável por cuidar para que as mulheres não sejam vítimas de violência doméstica.
Maria da Penha, mulher que deu nome a lei, sofreu violência semelhante as descritas acima a quase trinta anos atrás. Seu ex-marido em 1983, o professor universitário colombiano Marco Antonio Heredia Viveros, tentou matá-la duas vezes. Na primeira vez atirou contra ela, simulando um assalto, e na segunda tentou eletrocutá-la. Por conta das agressões sofridas, Penha ficou paraplégica. A vítima já tinha feito várias denúncias e sofreu muito para que seu agressor pagasse pelos crimes. Nove anos depois, Marco Antonio foi condenado a oito anos de prisão. Por meio de recursos jurídicos, ficou preso por dois anos. Solto em 2002 , hoje está livre.
Hoje a imprensa noticiou que foi encontrado pela perícia da polícia sangue no carro do goleiro. Se ficar provado seu envolvimento no desaparecimento da ex, ele irá descobrir da pior forma que em briga de marido e mulher se mete a colher. É inaceitável que casos como esses continuem acontecendo todos os dias. Não é atoa que o dia oito de março existe. Esse dia não serve para as mulheres se for apenas um dia de promoções de fogões, panelas e chapinhas. O oito de março surgiu para que casos como esses deixem de ser vistos como comuns, normais. A agressão começa na naturalização de uma relação desigual em direitos e deveres de homens e mulheres.
A maioria dos delegados, principalmente nas cidades pequenas como Nova Itarana, são homens, e não é raro esses representantes da justiça e da Lei banalizarem as denúncias de agressão feitas em suas delegacias por mulheres que sofreram violência doméstica. Já soube casos, inclusive de delegados reproduzirem a máxima de Bruno, de que não se mete a colher em briga de cônjuges, ou ainda que roupa suja se lava em casa. Também dizem que a Lei Maria da Penha não vai pegar. Atitudes inaceitáveis que devem ser combatidas por toda a sociedade através de denúncias, já que essas pessoas ao invés de cumprir a obrigação de proteger as vítimas, ajudam a aprofundar a vulnerabilidade em que se encontram.
O oito de março é uma data que representa a necessidade de mudança cultural em busca da igualdade entre os gêneros. A opressão não se dá somente pela diferença de força física (evidente no caso do goleiro, fisicamente bem mais forte que sua ex), mas também financeira, psicológica e social. Por isso é importante também a valorização das mulheres nos espaços de poder. Iniciativas como a da Deputada Estadual da Bahia Neusa Cadore que junto com a comissão de mulheres, realizou uma sessão especial no dia 29 de março deste ano na Assembléia Legislativa da Bahia para debater sobre a ocupação das mulheres nos espaços de poder.
Mulheres ocupando espaços importantes na nossa sociedade como
, entre outras guerreiras importantes, Neusa e a primeira juiza negra do país Luislinda -exemplo de luta pelos direitos das mulheres e de negros e negras- , é o início de uma sociedade mais justa e democrática, com condições mais iguais entre homens e mulheres.

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