A polêmica em torno da formação da chapa liderada pelo governador Jaques Wagner às eleições de outubro requer distinguir os sentidos políticos de três termos que têm sido usados como se fossem sinônimos: coligação, conciliação e cooptação.
Coligação – como as que se fez, em 1986, para eleger Waldir Pires e, em 2006, o próprio Wagner – é, com frequência, recurso de articulação política pelo qual forças que, isoladamente, são mais fracas podem enfrentar, com êxito, adversários mais fortes. Não se aplica à reeleição do governador, que hoje lidera o campo de forças mais poderoso.
A conciliação (pregada, no século passado, por políticos da Bahia pré-moderna) significa revogar, ou adiar, confronto entre as forças políticas mais relevantes, em prol de algum objetivo que lhes seja comum. Teve êxito com Octávio Mangabeira, na democracia do final dos anos 40 e com ACM, em 1978, sob as regras do regime militar. Também não se aplica ao caso atual, pois as alianças do governo petista não são para evitar confronto, mas para tentar vencê-lo no primeiro turno.
Já a cooptação é um método clássico de elites governantes.
É o uso de recursos e argumentos de poder para se antecipar a adversários, capturando parte dos seus quadros e decapitando as chances de haver uma oposição vigorosa.
Foi este, dentre outros, um método praticado com eficácia pelo ex-senador ACM para assegurar a longevidade do seu poder na Bahia. Curiosamente, dos três termos aqui comentados, este é o que mais se aproxima do que de fato está ocorrendo entre nós, nestes tempos pós-carlistas.
É óbvio que não há identidade de objetivos, ou de estilo, entre o falecido senador e o atual governador. Há objetivos diversos, já que diversas são as forças sociais que expressam.
E os estilos, como se sabe, são opostos. Mas a metodologia atual das alianças muito se parece com a de ontem.
Dir-seaacute; que são rituais da política real, logo, inevitáveis.
Mas quando se fala em mudança política não é para mudar, também, esses rituais? Eles são uma realidade objetiva, é certo, mas o que seria dessa realidade atual se não fosse a ação, no passado, dos atores políticos que a plantaram? E o que será a realidade objetiva de amanhã, senão aquilo que for plantado pelos atores de hoje? A afirmação, como liderança, dos atores do novo campo político governante requer explicitação de um contraste com o que lhe antecedeu, visível principalmente no discurso geral do governo e no seu arco de alianças. Sem isso, ocorre uma continuidade.
Se a cooptação for o principal meio adotado para fazer alianças, a mudança vislumbrada em 2006 será reduzida a uma transição entre o então “carlismo pós-carlista” (de Paulo Souto) e uma outra situação semelhante. Assim, o atual grupo dirigente poderá até destruir o grupo carlista, mas infiltrará a política carlista em seu próprio campo.
Coligação – como as que se fez, em 1986, para eleger Waldir Pires e, em 2006, o próprio Wagner – é, com frequência, recurso de articulação política pelo qual forças que, isoladamente, são mais fracas podem enfrentar, com êxito, adversários mais fortes. Não se aplica à reeleição do governador, que hoje lidera o campo de forças mais poderoso.
A conciliação (pregada, no século passado, por políticos da Bahia pré-moderna) significa revogar, ou adiar, confronto entre as forças políticas mais relevantes, em prol de algum objetivo que lhes seja comum. Teve êxito com Octávio Mangabeira, na democracia do final dos anos 40 e com ACM, em 1978, sob as regras do regime militar. Também não se aplica ao caso atual, pois as alianças do governo petista não são para evitar confronto, mas para tentar vencê-lo no primeiro turno.
Já a cooptação é um método clássico de elites governantes.
É o uso de recursos e argumentos de poder para se antecipar a adversários, capturando parte dos seus quadros e decapitando as chances de haver uma oposição vigorosa.
Foi este, dentre outros, um método praticado com eficácia pelo ex-senador ACM para assegurar a longevidade do seu poder na Bahia. Curiosamente, dos três termos aqui comentados, este é o que mais se aproxima do que de fato está ocorrendo entre nós, nestes tempos pós-carlistas.
É óbvio que não há identidade de objetivos, ou de estilo, entre o falecido senador e o atual governador. Há objetivos diversos, já que diversas são as forças sociais que expressam.
E os estilos, como se sabe, são opostos. Mas a metodologia atual das alianças muito se parece com a de ontem.
Dir-seaacute; que são rituais da política real, logo, inevitáveis.
Mas quando se fala em mudança política não é para mudar, também, esses rituais? Eles são uma realidade objetiva, é certo, mas o que seria dessa realidade atual se não fosse a ação, no passado, dos atores políticos que a plantaram? E o que será a realidade objetiva de amanhã, senão aquilo que for plantado pelos atores de hoje? A afirmação, como liderança, dos atores do novo campo político governante requer explicitação de um contraste com o que lhe antecedeu, visível principalmente no discurso geral do governo e no seu arco de alianças. Sem isso, ocorre uma continuidade.
Se a cooptação for o principal meio adotado para fazer alianças, a mudança vislumbrada em 2006 será reduzida a uma transição entre o então “carlismo pós-carlista” (de Paulo Souto) e uma outra situação semelhante. Assim, o atual grupo dirigente poderá até destruir o grupo carlista, mas infiltrará a política carlista em seu próprio campo.
(Cooptação) é o que mais se aproxima do que de fato está ocorrendo entre nós
PAULO FÁBIO DANTAS NETO É CIENTISTA POLÍTICO
Publicado no dia 31/03 no Jornal A Tarde
Quando se fala em mudanças trata-se essencialmente em mudar ações perversas, autoritárias e injustas e não exatamente em metodologias das alianças políticas. E, se se afirma que é o mesmo ritual com identidades de objetivos e estilos diferentes, é pq algo mudou na essência. E isso é bem relevante - a diferença na identidade, no estilo e nas ações. Lembremos que paradigmas mto arraigados não se mudam do dia pra noite e o contraste nos rituais de coalizão, certamente, não é o mais urgente!
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