As eleições movimentam os jornais, sites de notícia, redes da internet, conversas entre amigos, corporações, movimentos sociais, etc. Objetivamente, a política entrou de vez na agenda do país em nível estadual e federal. As eleições dinamizam as relações sócio-políticas e culturais de todos os municípios brasileiros dando fôlego a democracia representativa de interesses, opiniões e perspectivas sociais.
O Brasil tem refeito o caminho da democracia nas últimas décadas ancorando-se nos princípios tradicionais do regime representativo que preza pelo descolamento dos eleitos em relação aos eleitores. Por um lado, não temos nos políticos criatividade voluntária suficiente e estímulos razoáveis no sentido de valorizar a participação dos eleitores no processo de decisão política e de condução do instituto da representação política. Temos, por outro, uma sociedade domesticada a não participar e a fazer da política um reino de interesses particulares, escusos e “egoísticos”. O favor, o privilégio, as “demandas” de apoio das bases a candidatos fazem presentes nas relações políticas a meios anti-democráticos de representação política, como o clientelismo e o financiamento privado de campanhas solapadas pelo marketing eleitoral que molda e surfa um modus operandi cativo a escolhas mercadológicas que perfilam a política em prateleiras como as dos supermercados, onde algo se escolhe, compra e vende. Muito dinheiro se derrama por voto, caso se busque êxito. O que isso pressupõe? Que as vicissitudes da representação política se baseiam numa refletividade entre o eleitor e os eleitos. Há um mimetismo entre as partes do sistema representativo, para o bem e para mal. Infelizmente, os resultados comprovam o que a ciência politica tem debatido com afinco: quanto mais afastados os eleitores conscientes do seu papel, mais políticos reféns dos seus desejos privados em detrimento do interesse público.
Um debate subjacente às eleições de 2010 é o contexto da reforma política, a cada dia mais desejável e necessária. Ao passo que as sociedades, inclusive o Brasil, aprofundam a insatisfação no sentimento de estar sendo representado, temos a inevitável tarefa de fazer o caminho inverso: pensar o papel da sociedade e que valores democráticos podem revigorar a consolidação democrática no Brasil a partir de novos costumes republicanos de maior zelo e envolvimento das pessoas com a política. A aproximação dos eleitores junto as instituições políticas pressupõe novas configurações sociais de dedicação, interesse, tempo e sociabilidade, além de maior educação cívica.
Debater o papel da sociedade na política não isenta os representantes políticos das suas responsabilidades, mas recria o elo democrático de não tornar indispensável graus de participação de eleitores na manutenção da coisa pública sem prescindir da representação e de, portanto, representantes. Contudo, as eleições deste ano podem e devem encaminhar um debate: que sentido tem a democracia de “gabinete”? Sem povo, como foi a república que se proclamou no país excluindo social e politicamente os recém-libertos da escravidão, que democracia teremos?
A sociedade precisa se organizar e educar para reencontrar-se na política. Também ma boa agenda pode ser feita pelos candidatos pondo em relevo questões essenciais como esta, de alcance do que o filósofo italiano Antonio Gramsci veio a chamar de “grande política”. Eleitos e eleitores precisam rever o papel da participação para o projeto democrático em curso no país. No mais, do contrário, ficaremos com uma democracia fadada aos escândalos rotineiros da política de maus eleitos e eleitores. As próximas eleições podem mudar a qualidade da nossa democracia. Isso derivará de novas atitudes de cidadãos comuns e Estado.
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