sábado, 20 de fevereiro de 2010

Brasília e a democracia


      Uma das autoras, dentre vários, que tem freqüentado as bibliografias obrigatórias da teoria democrática sobre representação política, a Professora da Universidade de Columbia (EUA) Nadia Urbinati, enuncia em suas obras a dificuldade das democracias representativas cada vez mais desinteressadas em aproximar eleitos e eleitores no dia a dia da política. O francês Bernard Manin também em sua extensa pesquisa sobre a representação apresenta as vicissitudes do princípio representativo que ao longo do tempo se inclinou ao método de seleção de líderes que não deveriam prestar esclarecimentos e nem ouvir os eleitores ao tomar decisões políticas. Os “representantes” do povo em sua totalidade seriam escolhidos por eleições, mas não estariam sujeitos a terceiros, a falar “em nome de” alguns, mas de todos com um mandato livre ao sabor do eleito. O autor francês identifica que nas democracias contemporâneas, este princípio do mandato livre, de identificação republicana segue com poucas alterações inclinadas à participação dos eleitores, assim como o modelo de identificação liberal que vincula os eleitos aos interesses particulares dos seus eleitores, como analisa a Professora da Universidade do Québec, Dominique Leydet.
      Guardada as devidas nuances teóricas de cada autor, boa parte dos estudiosos da democracia tem buscado compreender em que medida falta ao principal regime político da modernidade mais participação e engajamento das pessoas, dos eleitores para com os eleitos, fundamentalmente. Os “déficits” da democracia são percebidos no cotidiano da política com milhões de cidadãos tomados pelo sentimento de não estar sendo representados por ninguém. Encastelada em Brasília, a atuação parlamentar e os processos legislativos fazem da política uma atividade profissional e de difícil entendimento para a maioria da população, estranha aos sentidos e interesses da política em sua vida.
      A prisão do Governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (ex-DEM) coroa o fracasso do atual modus operandi da democracia: representação sem participação política. Gabinetes inaudíveis aos frissons da “rua”.  As saídas e os desafios para a retomada da grande política na vida das pessoas é a educação da população para o exercício da cidadania ativada pela participação destacada das pessoas na política. Construir grandes pilares de sustentação da democracia e da república através do empoderamento real do povo.  Isso impacta a vida social das pessoas que precisam estabelecer que desprendimento e tempo tem a se dedicar à res publica fundamental para o viver em sociedade. O interesse e a participação são proporcionais ao protagonismo  que terão no jogo democrático para além das eleições.
      Em suma, a democracia representativa do jeito que está sendo propalada caminha a uma insustentabilidade politica. Imanente aos efeitos do seu distanciamento aos ideais de democracia, inclusive os liberais, temos a oportunidade de mudar a intensidade e a qualidade dos diálogos para que propiciem uma grande reforma política que envolva toda a sociedade na consolidação da democracia ou, ao contrário disto, corremos o risco de agraciarmos as circunstâncias que fazem do que acontece em Brasília uma amarga regra.

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