segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Projeto Megalomaníaco

Nasci e cresci na cidade baixa em Salvador.
Não sei se é um dos lugares mais bonitos do mundo, mas com certeza é o lugar mais bonito que já vi.
O mar, o pôr-do-sol, o cheiro, a segurança que sinto em estar "em minha casa", onde todos se conhecem, onde há uma forte identidade.
A cidade baixa, Itapagipe, mais específicamente, não é só uma vista bonita, é também um pedaço histórico de Salvador. Com sua arquitetura, povo e cultura, Itapagipe tem o seu próprio rítmo.
Só que isso tudo pode mudar.
A Prefeitura de Salvador fez um projeto muito bonito na planta, e aparentemente um sonho de transformação de uma área historicamente esquecida e sucateada.
Itapagipe não é dos ricos. Itapagipe não tem o policiamento da Graça, o asfalto da Pituba, nem tão pouco é nutrida de bons serviços.
Então qual é mesmo o objetivo desse projeto?
Explorar turisticamente a grande beleza de Itapagipe.
Mas, e seu povo?
E sua cultura?
O lindo projeto prevê a demolição do Abrigo Dom Pedro II. Este abrigo é tombado, foi casa de praia de Dom Pedro II e sua estrutura é cópia do Palácio de Versailes.
O abrigo vive fazendo campanha pedindo socorro, parte do abrigo já desmoronou e a prefeitura atrasa o pagamento dos recursos que o abrigo tem direito.
O projeto prevê, pelas minhas contas, pode ser mais, a derrubada de quatro escolas estaduais, uma faculdade, a retirada de parte significativa de uma área comercial antiga e tradicional e de milhares de famílias pobres que vivem em um bom lugar. Muitas famílias tiram o seu sustento do seu vizinho mais glorioso, o mar.
Na proposta o Hospital São Jorge, também toma chá de sumiço. É o único centro de saúde da região que atende SUS e oferece um amplo atendimento ambulatorial e pronto atendimento. Foi reformado recentemente pelo governo do estado, mas não tenho notícias na melhoria do atendimento que sempre foi precário. Eu mesma já quase morri lá por conta de um diagnóstico errado.
Perceba que o projeto prevê prédios bonitos com uma vista deslumbrante. Não bastou aprovar na calada da noite o PDDU (Plano de Desenvolvimento Urbano) de Salvador, em que aumentou o gabarito da orla, para ser explorado comercialmente, ignorando os prejuizos ambientais. Quer também retirar os pobres para vender o espaço deles para as empreiteiras lucrarem.
Já que serão previstos prédios, o certo seria haver um cadastramento das famílias que serão desalojadas para que estas ocupem as novas moradias.
Um projeto que retira uma estrutura de suporte da população e a própria população, sem deixar claro para essa população como este projeto será desenvolvido, sem chamar a população para a sua construção, sem ao menos dar satisfação, não pode ser bom para a sua população.
O povo de Itapagipe só soube do projeto quando ouviram dizer que suas casas já estavam desapropriadas.
Duvido que a prefeitura falida de Salvador tenha dinheiro para indenizar de forma digna seus comerciante, quiçá relocar de forma adequada e justa as famílias.
Temo pelo local que faz parte da minha identidade.
Há projetos que conseguem trazer desenvolvimento para o seu povo e melhores condições de vida, como o projeto que está acontecendo na Pedra Furada, também em Itapagipe, onde as casas serão refeitas e regularizadas, para que seus moradores vivam melhor, uma parceria do Governo estadual com Federal, verba do PAC. Com certeza o potencial turístico dessa área será naturalmente potencializada.
Logo no início do vídeo abaixo aparece parte da mesma Pedra Furada com uma linda marina, mas sem os seus anrtigos moradores, povo que vive da pesca.
Esse não é o tipo de projeto que Itapagipe precisa, e sim projetos que melhorem as condições de vida de seu povo, valorizando-o e não enxotando-o.
Porém ainda estamos subordinados a projetos como esse da prefeitura que tem o interesse eleitoreiro, e de forma sádica e megalomaníaca mexe de forma irresponsável na vida de sua comunidade. Sem falar nos representantes das grandes construtoras que estão na Câmara de Vereadores e são grandes apoiadores da prefeitura.
Isso não é novo, o pelourinho está aí e a exclusão de seus moradores não trouxe soluções. A violência na área é alta, apesar da grande quantidade de PMs e o povo foi dividido. Os que foram expulsos vivem mal, não tiverem sua vida melhorada, foram esquecidos. E os que ficaram foram igualmente marginalizados, não tão esquecidos porque ainda incomodam.
Precisamos de saúde política, sanidade, coisas que não fazem parte da gestão da Prefeitura de Salvador.

4 comentários:

  1. Muito boas as reflexões sobre os interesses do prefeito ao pensar em requalificar uma área da cidade ao passo que desqualifica vidas.

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  2. Estou na mesma luta que você.
    Fiquei meio atônita com o que vem acontecendo neste precesso de desapropriação, pois as coisas vem acontecendo da forma mais arbitrária possível.
    Fico tentando achar uma forma de atuar contra este projeto doido, mas minha inexperiência e falta de articulação em movimentos sociais me atrapalham.
    Enfim...por enquanto a única forma que encontrei de atuar foi espalhando to-das as informações que tenho sobre este processo.
    Mais uma vez, suas considerações estão de parabéns!
    Vou mencionálas no meu Blog.

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  3. O que o prefeito quer eh ELITIZAR a orla de Salvador..veja o exemplo de Vila Brandão...
    logo logo eles (prefeitura e construtoras) estarão atacando a orla do SUBURBIO ...quem viver vera

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  4. para todos que sao contra esta SEGREGAÇÃO URBANA
    da Orla de Itapagipe o email para contato com a AMBEV (Associação do Moradoeres e Empresarios de Itapagipe e Adjacências) e AMEBV@BOL.COM
    SO UNIDOS PODEREMOS BARRAR ESSA SEGREGAÇÃO URBANA DA PREFEITURA DE SALVADOR

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