Por mais que vivamos um momento político conturbado, a impressão que temos em geral é que a população não se vê como soberana, ou seja, como portadora da decisão de quem vai ascender aos palcos da política. A democracia liberal no Brasil se faz com controle e tutela. A esquerda parece querer fugir de tal assertiva, mas às vezes ratifica uma prática coronelista. É democracia uma sociedade onde as pessoas não tenham em si a consciência e o peso da responsabilidade de garantir políticos tão inescrupulosos com a res publica? Em geral, quem garante a existência de Sarney na política e dezenas de senadores que refletem práticas políticas que derrubam ao chão fronteiras entre a coisa pública e o mundo privado? Sarney não é o começo da crise que o congresso atravessa, mas a sua forma de fazer política, que não é peculiar ao povo do Norte, perpassa o reflexo de uma sociedade que leva a política dando um “jeitinho” e encarando o Estado como um agregador de interesses privados. O Brasil é patrimônio de poucos. Vide a quantidade nas três esferas de funcionários “públicos” indicados por um filtro político, o do voto, em questão. Assusta um Estado baseado em indicações políticas. Motorista, porteiro, copeira, recepcionista, auxiliar de serviços gerais, etc. Quase todos os cargos são moedas de troca na política. Vale entender a natureza do relacionamento das empresas terceirizadas com os partidos políticos que estão com o poder para entender-se mais a fundo a problemática que une a esquerda e a direita na vontade de conquistar um poder podre, quando temos em perspectiva uma republica e uma democracia. Parte dos “gestores” do Estado e a sociedade se unem para a defesa da política como um negócio de caráter privado. Sarney se refestela no poder há décadas e desembarcou em tempos recentes no projeto do PT de chegar ao poder pela estratégia do conservar-mudando. O PT chega ao condomínio das desigualdades sociais e econômicas sem ter em mente a mobilização de extensas massas excluídas em prol de um Estado democrático de direito de fato. Esta estratégia revela a real necessidade de um Sarney para o projeto petista de poder. O PT se rebaixou a mais vil ralé da política para a consecução do seu projeto (parte dele de significância discutível) e, para tanto, precisou se rebaixar aos membros da sociedade do “jeitinho”. A vitória eleitoral do PT nunca fez sentido para além de uma vitória eleitoral de um projeto que promove uma pequena “mini-revolução democrática” em termos reais. É de pequeno alcance por que teve medo de mobilizar o povo a desestabilizar o jogo político de uma elite que perdura nesse país desde que ela chegou aqui, em 1500. O PT teve medo. A sua vitória é a vitória do medo, desde quando desejou chegar ao poder com a burguesia, os ruralistas, os caciques, os matadores de Dorothy Stang. A coalizão petista que alçou Lula em 2002 à presidência é a conciliação do Davi com o Golias. Fica fácil, assim, perceber a importância de Lula e do PT defender Sarney. O que perguntamos é em que medida o PT ainda consegue falar em um projeto da classe trabalhadora, quando o que se vê é a predominância no governo dos antagônicos deste, não em quantidade e postos de alto escalão, mas no aspecto ideológico e de visão de mundo. Não se enganem: todos que estão desbotando a estrela que tem Lula em seu bojo são cortejados pela direita que está na oposição ao governo. O DEM e o PSDB desejam arduamente Sarney e fritam este do palanque por mero cálculo de que o enfraquecimento dos aliados pró-Lula/Dilma indica vantagem para uma candidatura presidencial da oposição que, decerto, terá apoio de parte do PMDB. Lula invoca o projeto de 2010 para garantir apoio a Sarney. Pergunta-se: este apoio independe da gravidade dos fatos que chancelariam uma conivência e participação do presidente do senado? Parece que sim. A quem estarrece um partido ora defensor do socialismo agora tornar-se defensor de um cacique (ou general?) dando um cheque em branco? Ressalva-se a maioria da bancada do PT no senado que votara pelo afastamento parcial do “imortal” das letras. Neste ínterim, uma conclusão: o PT está na defensiva, o quer do/no poder quando quer chegar ao poder compartilhando-o com setores que negam a história do partido? O que faz revela está em curso no país mudanças que jogam a favor de uma democracia e uma república de fato chamada Brasil? Sarney é um bicho de duas caras: a da esquerda defensiva e a da sociedade que vê a política como “jeitinho”, um negócio de sucesso. O senado é “um museu de grandes novidades”. A principal é a assunção de uma esquerda que não consegue chancelar nem um socialismo, nem democracia e muito menos uma república. Sarney não faria sentido, caso discordassem desta afirmação. A esquerda está na defensiva, quando nunca foi tão fácil está no ataque contra uma forma de sociedade cruel e cambaleante em diversas esferas da vida. Críticas à esquerda vivificam a inquietude normativa e ideológica que demarca a nossa inclinação tendo como horizonte uma república. Da direita não se discute com estarrecimento e preocupação seus atos em vislumbre a desafios democráticos. Os fatos são para tanto. A história do Brasil que o diga.
domingo, 5 de julho de 2009
Lula e Sarney: O PT ontem e hoje em questão
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário